Thursday, December 24, 2009

Amar mais e melhor


Desejo a todos os humanos votos de um Santo Natal, seja lá o que isso for... e espero que a partir de agora passem a amar mais e melhor para entrarem em 2010 como deve ser... ou seja... humanos mais completos...

Wednesday, December 16, 2009

Ganhei !

Olá a todos

Ganhei o 3º prémio do concurso Arte para a dignidade, modalidade Conto, promovido pela Amnistia Internacional. O dito tem nome e chama-se " Os sonhos pagam-se caro". Será verdade? Pelo menos no conto sim...

Eis a Sinopse:

O que tem Muhammad Yunus a ver com Dalila e Diogo?
Porque é que pessoas bem intencionadas em relação a terceiros se vêem, de repente, confrontadas com forças obscuras que não dominam e têm dificuldade em perceber?
Eis a trama de Os sonhos pagam-se caro, um thriller à escala global que envolve a ordem financeira dominante nos países do primeiro mundo.

Interessante, não? Também acho! O conto está publicado numa brochura da Amnistia Internacional, lançada a 10 de Dezembro, data que assinala a aprovação, pelas Nações Unidas, da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

As restantes modalidades a concurso foram: fotografia, escultura e pintura. Tudo mobilizado em função da Dignidade. Merece, não merece?

A todos os que fizerem um minuto de silêncio em homenagem à minha humilde pessoa, por este feito, os meus agradecimentos antecipados.

Bem hajam!

Saturday, November 28, 2009

Gente de Dublin … e não só

A Igreja Católica tolera melhor a ideia de ter padres pedófilos no seu seio do que padres casados. Porquê? Enquanto o casamento dos sacerdotes não está sequer em discussão, a pedofilia, quer queiremos quer não, sempre tem sido “enfrentada” nos últimos anos por Bento XVI, que a tem condenado abertamente desde o início do seu papado, ao contrário de João Paulo II que fechou sempre os olhos a este gigantesco problema.

Durante décadas e décadas a Igreja sabia da existência de padres pedófilos. Contudo, ergueu um muro de silêncio à sua volta, permitindo que comportamentos abusivos e pouco cristãos fossem reproduzidos.

A conivência da Madre Igreja foi uma verdadeira carta de alforria para os seus perpetradores, encorajados pela incapacidade de reacção dos seus superiores os quais, a única coisa que faziam, era mudar de paróquia os prevaricadores.

Vem isto a propósito da última parte do escândalo de pedofilia vindo a público, neste caso na Irlanda, arquidiocese de Dublin, onde centenas de crianças foram sistematicamente violadas (até colectivamente) e alvo de mimos por mais de cento e cinquenta padres (só os conhecidos na capital irlandesa), como serem chicoteadas nuas, tomarem banho com água a ferver ou quase gelada e serem ameaçadas com cães raivosos, entre as décadas de 40 e 70 do séc. XX. Nas escolas públicas irlandesas, administradas por dezoito ordens católicas diferentes, o clima de terror era o pão-nosso de cada dia, alimentado também por funcionários que se juntavam à festa em conjunto. Embora a maioria das vítimas fossem do sexo masculino, também há vítimas femininas. O folhetim irlandês mais recente conta quarenta e sete padres pedófilos, entre 1975 e 2004 …Há nove anos que a Irlanda começou a compilar estes horrores sistemáticos, de que resultam agora narrativas em cinco volumes. Autoridades sanitárias e policiais foram também cúmplices no silêncio …

Um dos primeiros escândalos no seio da Igreja católica a vir à praça pública, ocorreu há uns anos, em Cardiff (capital do país de Gales). Depois disso sucederam-se Boston, Los Angeles, entre outras. Há paróquias falidas pois o seu dinheiro não tem dado para os acordos com as vítimas, na tentativa desesperada de que os casos nem cheguem à barra dos tribunais.

E em Portugal? Como estamos? Não houve casos semelhantes? Ainda não houve coragem para mexer no assunto? Não há vítimas? Ou a Igreja Católica portuguesa tem padres à prova de pedofilia?

Nota - O nome do post é inspirado na obra literária Gente de Dublin, de James Joyce. Nem de propósito, né?

Tuesday, November 24, 2009

Novidade

A última novidade é que, a partir de agora, também vou estar na revista on line MAGAZON:


magazon.netmadeira.com


Neste momento está já no ar o artigo que fica consagrado para toda a minha eternidade:

2012 soma e segue

É cinema, né? Que mais poderia ser para abrilhantar melhor a minha estreia?

Saudações e até breve. Ah!Ah! Ah! Ah!

Friday, November 6, 2009

A face desoculta


Toda a gente sabe: Armando Vara e várias outras "personalidades" do nosso rectângulo usavam e abusavam dos lugares ocupados para fazerem troca de favores entre si e assim comerem todos do mesmo panelão. Tudo bem para eles. São conhecidos entre si. Todos amigos de gravata e bons carros e unidos ainda mais agora pela jura de que não fizeram nada de mal, pois são castos e inocentes numa tramóia urdida contra as suas almas.

O problema é que à conta disso os interessas colectivos estavam viciados: informação privilegiada circulava entre si pervertendo a essência da democracia, a da transparência das regras e a da igualdade de partida na disputa dos concursos públicos, além da obrigatoriedade no pagamento de impostos para que possa ser possível, em consequência, políticas redistributivas.

O sucateiro Manuel Godinho é como o famoso traficante de droga, Pablo Escobar (falecido nos anos 90), ou como o Presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino Morais, cuja comunidade envolvente, ao sentir que beneficia com os indivíduos - têm obra feita e ajudam a comunidade com bens necessários ao povão porque os ditos precisam de lavar dinheiro sujo - aplaude-os, elege-os e esconde-os, se for preciso, porque uma mão lava a outra.

Perante isto é mais do que claro que "algo está podre" e não é no reino da Dinamarca, como diria Shakespeare.


Wednesday, October 28, 2009

Saramago: a fama sem proveito

- Está de folga hoje, D. Violante? - inquiriu a moça do cabeleireiro que não costumo frequentar.
- Deve haver engano. O meu nome não é Violante.
- Peço desculpa. Mas é tão parecida com a filha do Saramago.
Efectivamente, a dita, chama-se Violante Saramago, sua única filha, e circula na mesma cidade do que eu: Funchal. Para que conste, ela é mais velha, mais ou menos 10 anos. Contudo, ambas temos o mesmo estilo, se é que assim podemos chamar, informal, a mesma estatura, corte e cor de cabelo. Espero que as semelhanças fiquem por aí porque as diferenças devem ser muitas.
Nunca falei com a senhora mas na verdade esta não é a primeira vez que me confundem com ela. Por ex, à porta da minha casa duas transeuntes comentavam uma para a outra, quando passei por elas:
- Sabes quem é aquela? É a filha do Saramago. Ela mora ali, ouviu o meu filho do cimo da janela, que até se deu ao trabalho (e ao custo) de me ligar para relatar o sucedido.
Noutra vez uma amiga próxima da Violante, que chegou a um lugar povoado de livros, tocou-me no braço, estando eu de costas e chamou-me Violante. Dando pelo engano desfez-se em desculpas.
Outras três ou quatro pessoas já me disseram que me tinham visto na televisão, ou que eu era deputada, ou me tinham visto não sei onde...
Enfim... Tenho a fama mas não tenho o proveito que ela tem por ser a filha do Saramago. Não me teria importado nada de ter ido a Oslo quando Saramago recebeu o prémio Nobel da Literatura como ela foi. E ainda por cima a cerimónia decorreu no dia dos meus anos.... Teria sido um belo presente!

Thursday, October 15, 2009

Portugal profundo


Quando o desvario obsessivo toma conta de alguém, não há volta a dar. Pode ser a posse da terra ou da água - mata-se por uma tira de terreno e por uns minutos de água; a posse de uma mulher - como se fosse propriedade de alguém; a posse de de um cargo político - a projecção do eu no reconhecimento colectivo, em detrimento do eu pessoal.

Em qualquer dos casos trata-se de personalidades com características primárias, egocêntricas, incapazes de compreender o seu semelhante e que, face às contrariedades da vida, "cegam" na razoabilidade do entendimento sensato e roubam vidas, o bem mais precioso que cada um de nós possui.

Vem isto a propósito do homicida de Ermelo, o candidato socialista à Junta de Freguesia do mesmo nome que em Mondim de Basto, no passado domingo, matou o marido da sua oponente partidária em plena assembleia de voto.

Todos os implicados e aqueles que reportaram o assunto mais não fizeram do que "crónica de uma morte anunciada" e, por isso mesmo, fatídica mais cedo ou mais tarde.

O que dizer mais deste tipo de homicidas? São trogloditas do século XXI e vão continuar por aí, mesmo que nós não queiramos ...

Quanto a nós, resta-nos rezar para que nunca deparemos com tais espécimes nas nossas vidas.

Tuesday, October 6, 2009

Dilemas cívicos

Devemos ou não ter as quotas em dia das associações que porventura integremos? Refiro-me a associações profissionais, desportivas recreativas ou outras.
Quanto a mim, por norma, sou cumpridora dos meus deveres e obrigações. Contudo, ando a matutar neste outono estreante se devo, ou não, pagar certas contas para o próximo ano.

Vejamos:

- integro uma reconhecida associação profissional que o ano passado, por alturas da realização de um congresso que se realiza de quatro em quatro, resolveu fazer um perdão para os associados com as quotas em atraso.

- na qualidade de moradora de uma determinada zona pago ao meu município um valor anual e descubro, recentemente, alertada por outro vizinho, que um terceiro morador com o qual disputamos os lugares mais próximos das nossas casas, não tinha pago 2008 e 2009 até Agosto inclusivé.

O que fazer? Como agir? Palpites aceitam-se.

Relembro a este propósito a intenção, relativamente recente, da EDP (Electricidade de Portugal) pretender que os cumpridores fossem responsabilizados pelas dívidas dos incumpridores. Por pouco, a intenção não se concretizou mas só o facto de a terem colocado representa uma ameaça latente que, mais cedo ou mais tarde, pode ser reanimada por este ou por qualquer outro grande operador de qualquer coisa...

Em que ficamos? Este cenário seria possível nos países do norte da Europa?

Thursday, October 1, 2009

Defesa animal

Um crocodilo reagiu no passado dia 29 ao ataque de urina perpetrado por um americano de 20 anos.

O crocodilo, que é alérgico à urina humana, defendeu-se com unhas e dentes à conspurcação do turista.

Para o crocodilo, esta agressão não foi mais do que um atentado à natureza, já que o incidente ocorreu na margem do lago Nicupé, em Cancún, México.

Como é que um crocodilo, que está no seu habitat natural, pode pactuar com homens (sentido literal do termo) que continuam a manter atitudes típicas dos tempos das cavernas?

Pela minha parte, a indignação do crocodilo está mais do que justificada...

Monday, September 14, 2009

Rentrée com trauma em banho-maria


Depois das rentrées políticas e escolares agora é a minha vez. Não morri, mas quase … Reapareço às portas do outono depois do conturbado início de verão em que legiões e legiões de pessoas vieram ver a minha perna e as marcas da água-viva. Lembram-se?
Foi com esse acontecimento que editei o meu último post. Depois disso entrei em agonia… da qual sou uma sobrevivente a muito custo! Os bichinhos gelatinosos ainda me deram algum trabalho: duas visitas ao hospital – na 2ª vez fui melhor atendida - duas visitas ao centro de saúde para tratamento da queimadura, uma coceira terrível em dois dedos a qual, um mês e meio depois ainda se manifestava, uma visita a um médico privado – efeitos secundários do antibiótico quase me mandaram desta para melhor mas, como “o que não mata engorda” eis que aqui estou para alegrar os vossos corações e fazermos companhia uns aos outros… agora que já reencontrei as alegrias do mar, embora as ditas gelatinas ainda andem por aí … e o meu trauma esteja em banho-maria.

Saudações e até breve, companheiros de viagem galáctica …

Tuesday, June 23, 2009

O fim ... de mim ...

É bonita. Ondulante. Pequena. Mas... perigosa.

Tenho as suas marcas nas pernas e numa mão, que me doem ainda, e estão com edema (uma das superfícies na coxa está mesmo feia...), embora o episódio da fisgada tenha ocorrido há seis horas atrás.

Na altura berrei. Berrei, confesso. Não logo, pois a primeira queimadura foi ao de leve, o suficiente para eu perceber que estava em tão má companhia e, por isso mesmo, inflecti a "marcha" para regressar a porto seguro. Foi então que por duas vezes, senti queimaduras fortes. Urrei das duas. Estava sozinha no mar. O banheiro a uma dúzia de metros. Felizmente havia uma prancha quase ao meu lado, com umas escadas. Subi logo.


Comuniquei que eram águas-vivas. Vi três a boiar à volta da prancha. Deveria haver mais. Sei lá. Se eu queria um bote para me vir buscar.... questionou o banheiro. Claro. Não me atiraria novamente ao mar nem que ainda lá estivesse a estas horas. O barco estava tão amarrado que, um outro banheiro teve de vir ajudar e a coisa demorou um pouco.

Finalmente o socorro. O creme. Depois a ida à farmácia, etc. E aqui estou eu, em "convalescença", com as pernas ao léu, cobertas com uma grande camada de creme, que vou renovando quando a camada anterior já está quase absorvida.

Posto isto qual será a consequência, para mim, deste facto? Há anos que nado na zona balnear em causa - Clube Naval do Funchal. Nado com prazer e vou longe: faço uma travessia, ida e volta, entre dois cais, sem parar.

O que vou sentir quando voltar ao mar? Nadarei com gosto? Ou apenas me molharei ao pé das escadas, com receio de ir mais longe? Passarei a nadar na piscina? Uma opção que , decididamente, não me agrada...

Já no ano passado tive o baptismo de fogo na ilha Menorca - Baleares espanholas. Na altura tive a companhia de outros nadadores, um dos quais na cara, e um outro jovem deficiente. O banheiro da praia não tinha mãos a medir. Felizmente para mim, as queimaduras foram pequenas. Talvez por isso, pouco tempo depois, numa outra praia, (era um passeio de barco, com visita a várias ilhas) nadei novamente e com gosto. Achei que o prazer que a natação me provoca não iria ser atingido por um episódio circunstancial.

Mas hoje a gravidade foi diferente. E é na "minha" praia. Curioso é que antes de entrar na água eu perguntara ao banheiro se havia sinais dos animais... De manhã sim, dissera o dito, mas mais ao largo. Não acontecera nada....

Enfim... coitadinha de mim... como será o fim... de tudo isto...? Ah! Ah! Ah! Riu-me de mim...

Tuesday, June 16, 2009

Greve de sexo

Está desde ontem e até sexta-feira, dia 19 , em reposição, no Teatro Municipal do Funchal, a peça Greve de sexo. E , já agora, quem não sabe fica a saber que a mesma deu origem a um post, escrevinhado por mim e editado a 31 de Março, um dia depois de eu ter visto Greve de sexo.
Para poupar os preguiçosos transcrevo abaixo o dito post, que chamei na altura Fazer amor não a guerra. Lindo, né?
Saudações e aqui reedito o material ...


O sexo em troca da paz. Ou era assim ou não havia nada para ninguém.
Onde? Na comédia de Aristófanes: Greve de sexo, ou Lisístrata.
O tema da peça, escrita muito antes de Cristo - exibida até 30 /03 no Teatro Municipal do Funchal - continua em voga. Então não é que no último final de ano umas nativas da Bella Italia, mais concretamente de Nápoles, resolveram imitar as gregas mas, em vez de sexo pela paz, trocavam sexo pelo fogo de artifício do réveillon. Não queriam que os maridos, os amantes, os namorados e afins corressem o risco de ficarem estropiados e de as deixarem à nora. Ninguém sabe se a greve resultou porque, uma coisa é certa: é preciso cumplicidade entre o mulheredo para que as coisas resultem, caso contrário, com tanto mulherio a furar a greve a coisa fica comprometida .... e pode ficar feio para as autoras da greve.
No caso do nosso amigo Aristófanes o assunto ficou resolvido porque o mulherio, sob o comando de Lisístrata, resistiu unido, embora com incalculáveis sacrifícios e ameaças de fura-greve. Assim, vimos que o "mulheredo unido jamais será vencido". E os homens puderam, enfim, após muito sacrifício, assinar o armistício, e trocar as armas da guerra pelas armas do amor. "Às armas, às armas", ao encontro das mulheres, marchar , marchar. E foi o que fizeram e ficaram todos a ganhar... E o amor andou no ar. E a guerra findou!

Tuesday, June 9, 2009

Uma certa ideia de Europa...

Estamos em período de digestão das eleições europeias. Para uns os resultados foram um choque, para outros uma vitória. Contudo, não é disso que me ocuparei no decurso desta prosa.

Falo de uma certa ideia de Europa que, desde o alargamento a 25 (em 2004) ganhou forma: a questão da Constituição Europeia, um assunto que está ainda em banho-maria. Nesta, defendiam uns a ideia que as raízes judaico-cristãs da Europa deveriam constar do preâmbulo da Constituição, enquanto outros subscreviam a ausência a qualquer referência.
Ganhou este último aspecto e é também esta a minha versão. A principal razão justifico-a pela tragédia que representou o cristianismo para a Europa: a intolerância, o fundamentalismo religioso e uso de Satanás como armas para instigar ao ódio e ao medo.

Sobre este assunto sigamos o mestre Edgar Morin, intelectual de oitenta e tais anos que ainda há poucas semanas esteve em Portugal.
Para Morin o cristianismo destruíu outros deuses e outras religiões, dando cabo do tolerância religiosa que caractecrizava o Império romano além de , "a partir do momento em que foi reconhecido como a única religião de Estado, [ter provocado] o encerramento da escola de Atenas e [pôr] assim fim a qualquer filosofia autónoma" Morin, 2007, p.16).
Morin vai mais longe e diz que "o cristianismo triunfante" em vez de integrar as diferentes correntes de pensamento que existiam no seu seio impôs "uma ortodoxia impiedosa, denunciando os desvios como heresias, perseguindo-os e destruindo-os com ódio, mesmo em nome da religião do amor" (ibid).
O autor diz também: "Uma das armas da barbárie cristã foi a utilização de Satanás. Sob esta figura, é necessário ver o separatista, o rebelde, o negador, o inimigo mortal dos deuses e dos humanos. Aquele que não está de acordo e não quer renunciar à sua diferença está forçosamente possuído por Satanás. Foi com esta delirante máquina argumentativa, entre outras, que o cristianismo exerceu a sua barbárie. É óbvio que este não teve a exclusividade da arma satânica. Constatamos, no dias de hoje, que Satanás volta mais do que nunca ao virulento discurso islamita" (Ibib).
Admiramo-nos?
Que europeus seríamos hoje se não tivéssemos passado pelo crivo opressivo do cristianismo?
Poderámos ser piores do que somos?
Ou já batemos no fundo com o cristianismo e a sua longa e obscura e requintada idade média?
Tantas guerras se travaram em nome da religião (guerras santas - que paradoxo!) e tanto se lutou para a constituição do estado laico (revolução francesa) que fará sentido apegarmo-nos às ditas raízes judaico-cristãs como se fossem motivo de orgulho para uma ideia de Europa expansionista e que se quer tolerante e voltada para o futuro?
Hã? Hã? Hã?
Nota - Morin, Edgar (2007) Cultura e barbárie europeias. Lisboa, Instituto Piaget.


Monday, June 1, 2009

Implosões

Estamos em época de luto pelas feiras do livro. Domingo último (ontem) finou-se a feira do livro do Funchal. Nesta, um meio tão pequeno, o mercado livreiro revela interesses variados, todos de costas voltadas uns para os outros. Temos assim várias capelinhas, cada uma com meia-dúzia de fiéis seguidores ou, melhor do que isso, cada uma delas vive do momento glorioso do lançamento das obras. Morrem os homens, e as mulheres, e as obras ficam....

Há capelas para todos os gostos: umas que representam interesses públicos, oficializados por critérios de influência, como sejam, o de agradar, perpetuar certos nomes ou simplesmente o critério da publicação para mostrar trabalho feito; há capelas que englobam órgãos de comunicação social que podem incluir, inclusivé, interesses editoriais pertencentes ao mesmo grupo económico, ou capelas ligadas ao ensino superior , em sentido lato, que privilegiam a forma literária e a sua construção métrica e menos o conteúdo, ou ainda o beija-mão que certos interesses privilegiam para dar a luz verde a algum projecto literário a enviar para publicação, ou ainda uma associação dita de escritores que funciona mal e serve de escudo a protagonistas em bicos de pés.

No meio de tanta capela onde reside o espaço para a crítica literária? Zero! O que é afinal a literatura? No sentido lato tudo o que se publica é literatura, mas é isso que define um texto literário? Ou nada disso interessa desde que se escrevinhe? A Universidade da Madeira demite-se completamente dessa tarefa, a comunicação social, também não exerce a função crítica, a opinião pública sobre o assunto idem aspas ...

Enfim, sem pachorra para alongamentos (só o homónimo exercício físico) da temática saliento que o preconceito é a marca dominante de todas as capelinhas. Este elo comum empobrece as próprias pessoas que o praticam já que, em vez de lutarem contra as suas limitações, fazem gala
da sua vista curta e grossa.

Cada capela é importante demais para conviver com o vizinho e cada umbigo é, por si só, o centro do mundo que se vai bastanto por si só.

Quando é que vão implodir?

Wednesday, May 27, 2009

Pensamento do mês


"O sucesso é a capacidade de  

avançar de um fracasso para outro

 sem perder o entusiasmo".

Winston Churchill

Tuesday, May 19, 2009

Olho por olho ...

Podem Anjos e Demónios agir com as mesmas armas? Podem!

Então, qual a diferença entre eles?
É disto que trata, em parte, Dan Brown, no seu livro Anjos e Demónios, cujo filme homónimo estreou na 5ª passada, em todo o país (coisa rara...).

A diferença está em quem começou, primeiro, a sucessão de horrores. Neste caso foi a Santa Madre Igreja, Católica, Romana, Apostólica, através de purga efectuado no séc. XVI. Uma purga é uma "limpeza", uma limpeza da ciência através da execução, em praça pública, de quatro cientistas que pertenciam à sociedade secreta Iluminatti (Galileu era um dos membros, segundo consta). A sua execução foi um aviso (e que aviso !!!) para que a ciência não ousasse pôr em causa a verdade e a ortodoxia politicamente correctas que a Igreja quis fazer passar a todo o custo. Muitos acredita(ra)m, como se sabe!

Resultado? Séculos e séculos de ressentimentos da ciência para com a Igreja de tal modo que, para a ciência se impôr e crescer, teve de fazê-lo de costas voltadas para com a Igreja. Ambas nutriram entre si um ódio de estimação.

No filme, os Iluminatti fazem uma revanche, em diferido, quatro séculos depois. É um ajuste de contas pela humilhação sofrida pelos cientistas. Justifica-se? Aos seus olhos sim. No entanto, crime é crime. Faz sentido pagar-se numa mesma moeda o mal que é feito por certos algozes, ainda por cima em nome de Deus? Não faz sentido, mas compreende-se. É a forma mais imediata e mecânica de reacção. Quando se começa uma vingança do tipo "olho por olho, dente por dente" entramos numa escalada que não tem fim. Veja-se o caso da Palestina e de Israel.

E quem lucra com isso? Todos perdem. Curiosamente, no filme, a primeira vítima foi o cientista-padre, que trabalhava no CERN, e que queria recriar a origem do mundo (o pai da Drª Vectra, para quem leu o livro, como eu, dado omisso no filme) de acordo com a chamada partícula de Deus, ou bosão de Higgins, a anti-matéria.

O cientista-padre representa a síntese entre a ciência e a religião. E agora? Talvez falte trabalhar nessa base: ciência e religião e olhar na mesma direcção. É possível, mas para já, quem não ficou contente com o ressuscitar desta história foi a própria Igreja Católica, Romana, Apostólica, etc. que dificultou a vida ao realizador do filme e que considera Dan Brown um hereje da actualidade. Só não o manda para a fogueira porque hoje já há muitos herejes...

Mas afinal: Deus é monopólio de alguém?

Saturday, May 9, 2009

Comer, beber e ... orar

Por estes dias, "todos" os caminhos vão dar a Fátima: o altar do mundo, como a própria gosta de se apresentar.

Uns vão por fé, outros por moda, outros ainda porque é mais um destino no seu roteiro turístico, ou para celebrar anualmente o aniversário e sabe-se lá por que razões mais. Deslocam-se a pé, peregrinos na sua maioria com os coletes reflectores que usam para sua maior segurança, ou deslocam-se em autocarros nacionais e internacionais, ou ainda em carros particulares.

Seja pelo que for o resultado é o de uma cidade que se organizou, e muito, à volta do fenómeno de Fátima. Abundam assim as rotundas, os hóteis, o comércio de velas, rosários, estatuetas e afins, as pastelarias, os restaurantes, as ruas, os museus, tudo em nome dos três pastorinhos todos juntos, ou só da Jacinta Marto, ou só do Francisco Marto, (Lúcia, como morreu há pouco tempo, não tem direito, ainda, a honrarias que só o distaciamento temporal permite), ou com o nome Fátima, da cova da Iria e por aí fora.

É um negócio florescente. Parece estar bem de saúde. Fora este um negócio do mundo antigo e Fátima escancaria, também, o negócio da prostituição, conhecido como prostituição sagrada. Como refere, por exemplo José Tolentino Mendonça (ver nota), citando Heródoto (490/480 a.C.) na Babilónia (actual Iraque) toda a mulher natural do país tinha de ir, uma vez na vida, ao santuário de Afrodite e "unir-se a um homem estrangeiro. Muitas, evitando, por desdém, misturar-se com as outras, soberbas como são das suas riquezas, fazem-se transportar ao templo em carros cobertos e colocam-se ali, rodeadas por numerosas servas. Mas a maioria faz assim: no santuário de Afrodite põem-se sentadas com uma coroa de corda (sinal de obediência à deusa) em torno da cabeça; umas chegam, outras partem. Em todas as direcções, por entre as mulheres, existem passagens e atravessando-as os estrangeiros escolhem. Quando uma mulher tomou lugar ali não regressa a casa sem que um estrangeiro, atirando-lhe umas moedas, se tenha unido a ela" (p.23).
Ora bem. Muito haveria a dizer sobre este assunto e sobre esta citação. Porém, como Fátima não faz parte do mundo antigo a prostituição não pode ser sagrada e fica-se pelo lado oculto, no segredo de quem procura tais vivências. Por estes dias também se dirigem a Fátima prostitutas (que concorrem com as residentes) que vêem nos inúmeros peregrinos uma oportunidade de negócio, à semelhança de outros fenómenos que movimentem as massas: expos, campeonatos de futebol, etc.
No fundo, à volta de Fátima e do sagrado, vive-se o profano e joga-se a vida em todas as suas dimensões: comer, beber e ... orar.
Nota - Mendonça, José Tolentino (2003) As Estratégias do desejo. Lisboa, Ed. Cotovia

Thursday, April 30, 2009

Pensamento do mês


"O amanhã pertence às mulheres"

Helen Fisher

Tuesday, April 21, 2009

Vida e morte

Nas duas casas vizinhas celebrava-se a vida e a morte: o início de um ciclo para um ser humano e o fim para outro. Em ambas as casas há convidados. Ampara-se as pessoas mais directamente envolvidas por tais circunstâncias.

É assim que praticamente começa o filme Gran Torino, de Clint Eastwood, o próprio no papel de Walt Kowalski, o homem que acabara de enviuvar. Walt é um tipo mal-humorado, azedo, que tem sempre na ponta da língua uma crítica mordaz para fazer a todos quantos ousam dirigir-lhe a palavra: os filhos, netos, o padre, etc. Ninguém o suporta e a única excepção fora, ao que parece, a mulher, que acabara de se enterrar.

O problema de Walt é que está mal com a vida porque está atormentado com a morte. Não com a sua própria morte, por ser já um septuagenário, mas com as mortes que carrega pela sua condição de veterano ao serviço dos Estados Unidos na guerra da Coreia. Ainda por cima, os vizinhos que festejam a vida são asiáticos, da etnia Hmong, e Walt projecta neles os seus fantasmas do passado com atitudes racistas, além de os encarar como os causadores dos males da economia americana. A certa altura as duas casas vizinhas cultivam um ódio de estimação.
Contudo, tudo muda quando um gangue Hmong pretende, a todo o custo, integrar o jovem vizinho asiático no seu bando. A iniciação consumar-se-ia com o furto do Gran Torino, o automóvel Ford de 1972, que era a menina dos olhos de Walt.
A partir daí há grandes alterações. O filme mostra que, e apesar das mazelas da vida que todos carregam, é possível derrubar preconceitos, promover a solidariedade e fazer com que a vida e o futuro vençam a morte e o passado.
Clint Eastwood é um mestre. Vejo todo e qualquer filme que tenha a sua assinatura, mesmo que dele não saiba o enredo. E mais não digo para deixar a imaginação de todos quantos pretendem ainda ver o filme.

Tuesday, April 14, 2009

Em nome de Deus, o diabo ...

A Páscoa foi-se (em parte - para os ortodoxos festeja-se nesta semana). E o que ficou? O doce sabor das amêndoas? Dos ovos de chocolate? O gosto do borrego? Do cabrito? Do leitão? O convívio familiar? As férias? O que quer que tenha ficado, e que foi pretexto para dar trabalho à "dentadura" e outros músculos corporais, foi-o à custa da da celebração cristã da vida e morte de J.C.

J. C. pois bem. Muitos de nós, certamente, têm ou tiveram uma relação complicada, difícil mesmo, não só com J. C. mas também, e sobretudo, com a instituição que se apropiou do seu legado: a (s) famosa(s) igreja(s) cristã(s) – no nosso caso também católica, romana, etc.

A dificuldade maior nas coisas de Deus foi, quanto a mim, o facto de em nome de Deus, se ter feito o diabo. E o diabo quando nasceu, foi para todos, como o sol… o bem e o mal e outras coisas que tal… O diabo incluíu toda a panóplia de mimos que são já conhecidos: matar, pilhar, perseguir, violar, acusar, julgar, culpar, atormentar, torturar requintadamente o corpo e a alma, tudo em nome da Cruz(ada) (e) da evangelização. A imposição, à força, de uma fé deixou um lastro de efeitos tão negativos que ainda hoje se faz sentir, mesmo inconsciente e indirectamente.

Assim, podemos dizer em termos gerais que há uma geração de pessoas nascidas entre 1946 e 1964 - conhecidas nos EUA como boomers – que se revoltaram contra a hipocrisia de impôr o terror em nome do amor a Deus de tal modo que, logo que se emanciparam, libertaram as fracas amarras que os prendiam à “sua” religião, alicerçadas mais por medo e por constrangimento social, do que por crença.

Contudo, olhando para J.C. é impossível não simpatizarmos com a sua personagem. As suas diversas facetas tornam-no excepcional. Cada uma das suas imagens vale muito mais do que mil palavras.

Na cruz, J.C. representa a injustiça suprema que pode acontecer a um ser humano. Era um homem bom, com propósitos puros, mas isso não evitou que outros o acusassem e o condenassem à morte. Ninguém está imune ao mal. Para quem acredita na reencarnação, J. C. pode simbolizar a morte injusta pela qual cada ser humano terá “direito” a passar numa das suas vidas.

Já descido da cruz, com Maria ao lado, J. C. simboliza a tragédia da sobrevivência de qualquer mãe que tem o filho morto no regaço. Chorar a morte de um filho é uma das maiores provações pelas quais um humano pode passar.

A morte de J.C. , representada, entre outros, nos quadros a Descida da Cruz, de Gerard David, no séc. XV (arte flamenga presente no Museu de Arte Sacra, do Funchal), ou de Peter Rubens, séc. XVII (barroco flamengo, exposto na Catedral de Antuérpia, na Bélgica), mostra, por sua vez, a solidariedade na dor que os humanos costumam dispensar entre si em situações de infortúnio. É preciso cuidar dos mortos, limpá-los, vesti-los, chorá-los e sentir que nada mais pode ser feito por um determinado corpo, para que a vida possa seguir em frente.

Moral da história: o sentido da Páscoa, mais do que o consumo de doçaria e gastronomia típicos da época, impõe que nos desintoxiquemos de tudo quanto foi feito de mau em nome de Deus. Para quê? Para que também possamos ressuscitar do legado miserabilista que nos foi inculcado e possamos elevar-nos para o céu da esperança e da confiança na vida e em nós próprios. Com dignidade, mesmo que com dor…

Tuesday, March 31, 2009

Fazer amor e não guerra

O sexo em troca da paz. Ou era assim ou não havia nada para ninguém.
Onde? Na comédia de Aristófanes: Greve de sexo, ou Lisístrata.
O tema da peça, escrita muito antes de Cristo - exibida até 30 /03 no Teatro Municipal do Funchal - continua em voga. Então não é que no último final de ano umas nativas da Bella Italia, mais concretamente de Nápoles, resolveram imitar as gregas mas, em vez de sexo pela paz, trocavam sexo pelo fogo de artifício do réveillon. Não queriam que os maridos, os amantes, os namorados e afins corressem o risco de ficarem estropiados e de as deixarem à nora. Ninguém sabe se a greve resultou porque, uma coisa é certa: é preciso cumplicidade entre o mulheredo para que as coisas resultem, caso contrário, com tanto mulherio a furar a greve a coisa fica comprometida .... e pode ficar feio para as autoras da greve.
No caso do nosso amigo Aristófanes o assunto ficou resolvido porque o mulherio, sob o comando de Lisístrata, resistiu unido, embora com incalculáveis sacrifícios e ameaças de fura-greve. Assim, vimos que o "mulheredo unido jamais será vencido". E os homens puderam, enfim, após muito sacrifício, assinar o armistício, e trocar as armas da guerra pelas armas do amor. "Às armas, às armas", ao encontro das mulheres, marchar , marchar. E foi o que fizeram e ficaram todos a ganhar... E o amor andou no ar. E a guerra findou!

Monday, March 30, 2009

Pensamento do mês


Tal como a felicidade, a decepção vem de dentro.

Mike Dooley

Monday, March 23, 2009

O que é natural é bom

Facto: dois rapazitos, de onze/doze anos, em plena época escolar, às 9h e pouco da manhã, a calcorrear a areia preta da baía do Funchal, ali à esquerda, quem avança pelo cais adentro, o que pode significar?
Gazeta! Os malandros fizeram gazeta! Provavelmente! Ah! Pensei eu. Mas se a fizeram tiveram muito bom gosto, sim senhor. Por mim estão perdoados, abençoados e podem ir em paz. Convenhamos: há lá melhor coisa do que passear à beira-mar, logo de manhã cedo (para mim a qualquer hora serve), num dia cheio de sol, com a musicalidade do mar ali mesmo aos nossos pés? Hã? E ainda por cima com toda a envolvente a espelhar harmonia, bem-estar e felicidade. Hã?

Há uns anos atrás eu, Zina Abreu me confesso, não teria usufruído dessa bonança. Encarava as pessoas que logo de manhã iam ver o mar, ou andavam nos jardins sem criancinhas, ou não estivessem a cair aos bocados, ou não fossem turistas, como pessoas que estavam desocupadas por n razões e que, à falta de melhor, utilizavam os expedientes da natureza para ocuparem o tempo, assim como uma espécie de actividades de tempos livres grátis.

Hoje não penso assim e, por mais coisas que veja no mundo, uma coisa me tem surpreendido sempre: a obra da natureza é incomensuravelmente maior que a obra humana, por mais que esta possa ser grandiosa. E é, sem dúvida. Notável até. Mas…

E então, vai daí ao “despois”, hoje pude muito bem ficar “a ver navios” que não me importei. E até o porto estava cheio, tendo um barco atracado ao largo e outro, muito grande, que chega ao domingo ao meio-dia e parte na segunda-feira às 17 horas para outras paragens, estava fora do sítio do costume. Mas estava lá e mais perto do meu ponto de miragem.

E a Primavera chegou. E … E …. E ….

Friday, March 13, 2009

Contas a zeros...

Nas pinturas? Zero!

Nos baixos-relevos egípcios? Zero!

Na estatuária grega ou romana? Zero!

Nas fotografias? Zero!

Nas fontes escritas? Zero!


Onde estão as provas de amor entre os homens-pais e os seus filhos ao longo dos tempos? Zero!

Todos estes registos mostram tudo menos um homem com um filho nos braços mas, pelo contrário, mostram homens-guerreiros, homens-caçadores, homens-monarcas, homens-cavaleiros, junto dos seus símbolos de poder.

Resultado? À vista desarmada temos uma herança de homens pobres. Pobres como pessoas, destituídas de uma das mais ricas expressões humanas, precisamente a da manifestação da ternura, do afecto, das emoções e do amor.

Não será esta pobreza do ser masculino uma das causas do seu mal-estar actual? Um mal-estar que se exprime significativamente através do único canal de expressão que os próprios homens se têm autorizado ao longo dos tempos? O da expressão sexual !!! É por isso que os homens juntam a expressão sexual à única forma demonstrada de superioridade que têm de facto: a da sua superioridade física.

Munidos com esse património pessoal e auxiliados pelo poder das armas e do dinheiro espalham o terror emocional e sexual através da pedofilia e do tráfico humano, sobretudo de mulheres e crianças usadas para fins sexuais. Quem são eles? São médicos, padres, professores, proxenetas, homens de todos os quadrantes sociais e de todas as latitudes, que não poupam ninguém, desde a própria família e aqueles a quem o dever da profissão lhes impõe o relacionamento, até ao sexo pago.
Reproduzirão estes homens situações de que foram vítimas? Vêem neste tipo de comércio humano uma oportunidade de negócio acima de tudo e de todos?

O desnorte masculino e o seu baixo Quoficiente de Inteligência Emocional em matéria de afectos, arrastam atrás de si uma onda de destruição. Até Quando?


A esmagadora maioria das pessoas adultas guarda dos seus pais-homens a memória de uma tareia, mas pouca ou nenhuma memória de afectos, de um colo, de uma confidência, de uma intimidade saudável. É triste. Muito triste.

Os homens não amavam os seus filhos ???? Sabe-se lá. Se amavam, não demonstravam!


Valha-nos o novo Adão que começa a despontar. Vemo-los nos centros comerciais, nos parques, nas ruas. Empurram carrinhos de bébé, levam os filhos ao colo, acompanham-nos ao médico, brincam com eles, etc. etc. É ainda pouco. Muito pouco e sabe a novo mas, já é alguma coisa ... na história do Adão.

Feliz dia do pai.

Friday, March 6, 2009

Arafat revisitado

Vem aí o Dia do Consumidor e o que é que o Arafat, que está bem morto e enterrado, tem a ver com o assunto?

Ora Arafat tem tudo a ver e, o pior, é que as pessoas nem sabem disso. Nem ele, obviamente. E a prova é tão evidente, ora se é, que até é carregada ao pescoço, como se isso fosse uma cruz da vida. É a cruz da condição humana, neste caso de rendição à sociedade de consumo. Então vejamos:

Qual é a coisa, qual é ela, que sem ser amarela, pode também sê-lo?

Qual é a coisa, qual é ela, que preto tinha concerteza, e franjinhas de certeza?

O que é? O que é?

Tãtãtãtã!!!

Palpites ???

É o lenço. O lenço árabe, o keffiyeh, que Arafat popularizou como símbolo revolucionário e da resistência da causa palestina, agora descontextualizado e transformado em objecto de moda. É isso a sociedade de consumo: a sua capacidade de pegar em qualquer peça, de inspiração multi-étnica, ou outra, e elegê-la em objecto de moda sem que as pessoas que a usam saibam aquilo que está por detrás da coisa.
Interessa o uso, mecânico, repetitivo e exaustivo. A consciência não.
Para que é que serve, perguntarão alguns? De facto, não serve para grande coisa. Também se vive sem grandes consciências, né? Os básicos bem o provam e, certamente, não estão incomodados com o assunto. Usam e deitam fora. A sociedade de consumo agradece.
Mas para quem quer mais, mais da vida, mais de si, mais de tudo, a consciência interessa. E muito. É por isso que eu escrevo, além do prazer da própria escrita em si:
para aumentar a minha auto-consciência do mundo de que faço parte.
É este o meu desafio ... fazer a viagem da vida o mais acordada possível.
Tãtãtãtã!


Monday, March 2, 2009

A feminista e a feminina


Lá vão elas: trá lá lá, tri ti ti, trá lá lá, tri ti ti. Vão formosas. Vão cheirosas. Mas vão seguras? Equilibram-se em saltos altos. Usam maquilhagem. Põem decotes e mini-saias e a cintura à mostra. Embrulham-se em trapos de inúmeros formatos, padrões, texturas e cores. Deixam as unhas compridas (naturais, de porcelana ou gel). Saiem à noite. Fazem directas. Bebem shots. Têm aventuras sexuais. Insuflam-se com silicone e fazem plásticas. São loiras, multicolores e colocam extensões no cabelo. E dizem-se femininas. Feministas é que não. Femininas sim, feministas não. Porquê?

Que representações mentais passam por aquelas cabecinhas tão arranjadinhas, cuidadas com tanto esmero e tempo investido?

Provavelmente ainda povoam nas suas mentes o imaginário dos anos setenta e dos estereotipos então associados e que perduram no tempo por serem desacreditados pelas estruturas de poder: que as feministas são umas raivosas que queimaram os soutiãs na fogueira… (nada comparado aos tempos do inquisidor-mor Torquemada, embora a fogueira seja o elo comum …), que têm aparência descuidada, masculina até (buço e pêlos nas pernas), são histéricas (como se não houvesse homens histéricos), não gostam de homens (é mentira, sim senhor!) e são umas mal-amadas (há alguém que se sinta absolutamente bem-amado?).

Ora bem. Conhecem alguma reivindicação que não seja feita com alguns excessos? Alguém dá algo de livre vontade? Entre pais e filhos como é? Como foram as lutas pelo direito à auto-determinação das então colónias? E a luta dos movimentos abolocionistas da escravatura? E os direitos dos negros na América, simbolizados por Rosa Parks (recusou ceder o seu lugar num autocarro a uma pessoa branca, como era suposto ter feito)? Hã?

Tá bem. Os homens sentiram-se ameaçados e temeram ser descartados. É mais do que um justo receio. Um homem sem mulher? Nã! Não pode ser. Uma mulher tem de ter rédea curta se não sabe-se lá o que pode acontecer… E um homem? É aí que está o busílis da questão. Os homens querem dois pesos e duas medidas: uma para eles e outra para elas. Está certo? Nã!

Ser feminista é querer ter direitos iguais e deveres iguais para homens e mulheres. Não somos todos pessoas? É querer ter a paridade em tudo: na economia, na política, no poder militar, na comunicação social, em casa, etc.

Temos dúvidas de que ainda falta fazer muito? Basta vermos as fotos do corredores do poder: das assembleias, das cimeiras internacionais, etc. etc. Afinal se a igualdade se fizesse por decreto legislativo já este seria o melhor dos mundos. O paraíso, até.

E então? Porque contentar-se com pouco se podemos ter mais? Quem pensa pouco tem pouco, quem pensa em grande tem grande. Cá por mim quero tudo: ser feminina e feminista. E sou. Tudo isso.

Feliz dia da mulher. Vamos estrear algo? Elas: porque sim. Eles: porque não? trá lá lá, tri ti ti, trá lá lá, tri ti ti. Vão formosas e vão seguras!

Monday, February 23, 2009

Pensamento do mês

Quando o poder do amor se sobrepuser ao 
amor ao poder, o mundo conhecerá paz.

Jimi Hendrix

Wednesday, February 18, 2009

Choques em cadeia

Pode. Mas não deve. Fazer amor com quem gosta. Porquê? As convenções sociais estão primeiro e diferem manifestamente para as mulheres e para os homens.

Resultado? Aquilo que parecia ser um sonho, aos dezoito anos, provoca um sucedâneo de choques. Era assim na Inglaterra de 1774, o ano em que começa a acção do filme A Duquesa, protagonizado por Keira Knightley, ela própria a Duquesa de Devonshire, Georgiana Cavendish, ou simplesmente G, em filme de Saul Dibb.

1º choque: o riquíssimo Duque, Ralph Fiennes, assume o código aristocrático do casamento: depois do dever cumprido, à espera de um herdeiro macho (motivo do “esforço” para legitimar um herdeiro), ele autoriza-se a divertir-se com as serviçais, que estão na residência para todo o serviço.

2º choque: chega à residência uma criança com mais ou menos dois anos e o Duque anuncia que ficará a viver com eles considerando que a mãe morreu . G intui que é filha dele. Ele admite.

3º choque: o Duque parece entender-se melhor com os cães, de raça, claro, do que com as pessoas em geral e a esposa em particular.

4º choque: os duques geram duas filhas e a culpada é G, porque está em causa a linha sucessória assegurada por um varão .

5º choque: o Duque de Devonshire torna-se amante da única amiga da sua esposa.

6º choque: blá blá blá blá blá.

7º choque: etc. e tal.

A quantos choques pode uma pessoas resistir?

Ora Georgiana é bela, inteligente, popular e admirada nos meios sociais ingleses. Envolve-se na vida pública, numa altura em que o exercício político do voto era interdito às mulheres, e faz campanha por um partido político. Um jovem político, futuro primeiro-ministro, entra em cena e os sentimentos eclodem.
Sincera, a Duquesa avisa o marido sobre os seus afectos e intenções. Afinal, toda a gente tem amantes e Bess, a amiga-amante é imposta lá em casa... Em resposta o Duque viola G: ela tem de lhe dar primeiro um herdeiro antes de fazer o que quiser com a sua vida. Efectivamente daí resulta um filho varão, o que provoca, circunstancialmente, o afastamento de G do apaixonado, cujo amor ainda não tinha sido consumado.

Contudo, o último acto ainda vem longe e o drama continua. Como acaba?
De acordo com as convenções sociais uma mulher deve sorrir. Sorrir sempre, mesmo que tenha o coração despedaçado e que a vida tenha andado em círculo assegurando assim a reprodução das ditas convenções… E Georgiana ainda conseguiu sorrir… Para que tudo fique bem. Para os outros…

Quantos sorrisos escondem almas partidas?

Wednesday, February 11, 2009

O amor que vem de longe


Há quanto tempo se namora? E se ama?

Desde sempre. Os humanos de Cro-Magnon já viviam como a família Flinstones: o pai Fred amava a mãe Wilma que amava a filha Pedrita e todos se amavam entre si de modo biunívoco. As setinhas iam e vinham numa reciprocidade comovente. A filha cresceu e “casa” com Bambam Rubble, um enjeitado que aparecera à porta do casal Betty e Barney, os melhores amigos de Fred e Wilma, e a vida segue o seu rumo entre o mascote “cangurussauro” e outros familiares e lianas e grutas e pedras e bicharocos ao vivo e a cores.
As provas?

Uma cadeia de hotéis espanhola imortalizou a simpática família paleolítica num hotel isleño e é ver os símbolos do período da pedra lascada à chegada ao hotel, à partida, na piscina e por todo o lado, nas mais variadas situações, dignas de registo para a posteridade.

Mas há outras evidências do amor que vem de longe.

Há registos mais antigos, lá isso há. Existem uns quantos clássicos do amor. Por exemplo: na grutas Grimaldi, em Itália, houve o “achamento” de um casal composto por uma mulher com cerca de trinta anos e por um homem à volta de 20 anos, abraçados, cujos esqueletos têm a módica idade de trinta mil anos. Pelo que se sabe, a diferença de idades entre o casal foi pacífica. Quem diria? Afinal, ambos estavam já no ocaso da vida …
Na Morávia, em Dolni Vestonicé, três corpos jovens foram encontrados: uma mulher rodeada por dois homens, um deles com a mão na cintura dela (ou no sexo). O trio é de vinte e cinco mil anos antes da nossa era …

Nas paredes de Pompeia, ainda há paredes que representam antigos casais romanos com sorriso enigmático, à mona Lisa, muito antes do Da Vinci existir. Amar-se-ão? Porque não? A história da humanidade faz-se na cama e estes “achamentos” provam a importância dada ao facto.

Os humanos de Cro-magnon, ou do paleolítico, como quiserem, “tinham o mesmo cérebro que nós, sonhavam como nós, experimentavam as mesmas emoções, os mesmo sentimentos que nós, e também deviam conhecer o desejo, o ciúme, a comiseração e os caprichos da paixão. É mesmo legítimo pensar que estes amores originais eram mais intensos, mais verdadeiros que os nossos, por se encontrarem livres de todas as contigências, de regras sociais, e da submissão a uma norma”, diz o especialista Jean Courtin[1].

E então, o que mudou nos humanos, após todos estes milhares de anos? A exploração predatória da natureza , a criação das tecnologias, os apagões de memória colectiva em nome da civilização e do bem comum, uma parte da condição feminina no Ocidente e pouco mais no sentido do equipamento humano básico, nu e cru, propriamente dito. Mas enquanto amarmos e fingirmos amar já é alguma coisa. Hã?

E agora façamos de conta que já é 14 de Fevereiro e antecipemos as comemorações, que nunca são demais. Feliz Dia de Todos Os Namorados: casais homo e hetero e bi e trans e para e …! Yabba-dabba-doo …


[1] (Vários) A mais bela história do amor (2006) Porto. Ed. Asa

Tuesday, February 3, 2009

Perdas e ganhos

1º round: ele ganhou.
2º round : ele ganhou.
3º round todos perderam.

Vamos ao primeiro round:
Ela é bela, bonita, loira, jovem, estudante de teatro e tem a cabeça cheia de ilusões em relação à sua pessoa;
ele é jovem, lindo, olhos claros, trabalha como estivador e tem a cabeça cheia de incertezas em relação à sua pessoa.
O Cupido lança o isco e eles caem na armadilha do amor, durante uma troca de olhares num certo dia, num certo bar, entre copos e gente e barulho e representações da alegria em vários graus mais ou menos histriónicos.

Agora o segundo round:
Mudaram de cidade. São bem vistos no bairro. Considerados como especiais. Ela representa no palco. Realizou o sonho. Ele tem um emprego como colarinho branco. Contudo, ela nunca será uma boa actriz, segundo o marido. Culpa do subúrbio onde vivem. Ela assume o fracasso e transforma-se “só” em dona de casa. Afinal casara porque engravidara e já vão no segundo filho. Ele é homem e cede aos instintos carnais no local de trabalho.

Terceiro round:
Ela tenta recuperar a chama do casamento e os sonhos antigos. Paris é a cidade mítica capaz de galvanizar uma nova dinâmica para começar de novo. Ela será a breadwinner para ele descobrir qual a sua vocação, que nem sabe qual é, mas que tem de ser grandiosa. Afinal, tem um emprego que detesta e sempre sonhara não ser como o pai, embora as voltas do destino o tivessem levado à empresa onde trabalhara o pai.
Combinam datas, avisam os amigos e ele no trabalho. Uma vez mais o destino troca as voltas: ela engravida. Ele tem uma promessa de progressão na carreira.

Ela não desiste. Quer ir na mesma e/ou resolver a situação.
Ele não.
E é aí que ela sente que se não pode ir, também não pode ficar.

O drama precipita-se e no fim todos perdem. Menos nós. Que ficámos com um desempenho soberbo de ambos: Kate Winslet ( que ganhou um globo de ouro pelo papel) e Leonardo DiCaprio, em Revolutionay Road.
Para mim o filme narra a história de sonhos desfeitos, ou melhor, a diferença entre aquilo que se passa na nossa cabeça e a realidade do dia-a-dia.

A acção acontece nos anos 50 do século xx. Mas poderia passar-se hoje. Não?

Tuesday, January 27, 2009

Bons ventos e bons casamentos


Em Portugal o debate está morno. Muito morno, enquanto para nuestros hermanitos, os espanhóis, espanholitos, a coisa já há muito saiu do armário, contra ventos e marés.
Falo de quê?

Do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Em Espanha o assunto está resolvido desde meados de 2005 e, de uma cajadada, o primeiro-ministro Zapatero matou vários coelhos: casamento entre homossexuais e as consequentes possibilidades da adopção de crianças, da gestão de heranças, da autorização de intervenções cirúrgicas, da requesição de empréstimos e de tudo o mais, previsto e imprevisto, que diga respeito a duas pessoas que se querem ligar pela via do contrato-casamento, independentemente do sexo de cada uma delas.

A isto eu chamo a vitória do amor. O amor é grandioso, tem muitas gavetas e chega para todos/as, desde que se tenha vontade de amar. Não tem limites, a não ser aqueles que as sociedades conservadoras lhe querem conferir.

Se as pessoas amassem mais, amariam melhor e embirrariam menos umas com as outras. E estariam mais ocupadas. E seriam melhores pessoas. E viveriam mais felizes aqui na terra. E podem amar pessoas do mesmo sexo, de outro sexo, amar os cães, os gatos, a natureza, o sol, a lua … E se ninguém tivesse nada a ver com isso haveria mais paz e sossego. Amor é amor.

O amor só traz vantagens, benefícios, mais-valias: retarda o envelhecimento, dá brilho ao olhar, sentido e qualidade à vida.

Ora Portugal ama de menos e, sobretudo, ama mal, de modo doentio. Precisa de ir ao divã e com urgência.

Em Setembro passado o nosso primeiro-ministro, José Sócrates, afirmou peremptoriamente que o casamento entre homossexuais não estava na agenda do Governo, nem do PS. Mas agora, Janeiro fora, já dá o dito por não dito: o casamento entre pares do mesmo sexo fará parte da agenda política da próxima legislatura.

Enfim, já é alguma coisinha, nem que seja porque o PS quer piscar o olho à esquerda (BE e Verdes), em busca do eleitorado que julga perdido. E de legislatura em legislatura pode ser que ainda apanhemos os espanhóis nesta matéria.

Afinal, de Espanha também podem vir bons ventos (mesmo que fraquinhos) e bons casamentos.
Quando formos iguais a eles a Península Ibérica será una e o iberismo vingará! Temos dúvidas??? !!!

Tuesday, January 20, 2009

Cor(o)ações ...

GOD SAVE OBAMA!

LONGA VIDA PARA OBAMA!

Tuesday, January 13, 2009

A natureza é que sabe

Vamos salvar os humanos?
Vamos!
De quê?
De comportamentos aberrantes: homossexuais e transexuais.
Ferramentas?
Uma espécie de “ecologia do Homem”, segundo Bento XVI, o Papa.
Do Homem?

Pobre Olympe de Gouges que deve estar a dar voltas na tumba. Afinal, de que serviu ser guilhotinada em 1793, durante os excessos da Revolução francesa?
Olympe de Gouges é autora da Declaração dos Direitos da Mulher e da cidadã (1791) – ver nota infra. Quem já ouviu falar dela que levante o braço! Tem um rebuçado como prenda!
Olympe de Gouges deu-se ao trabalho de escrever tal obra porque não se reviu na Declaração Universal dos Direitos do Homem (1789). Segundo ela, tal declaração dizia respeito aos homens, no sentido literal do termo.
Além disso, se há algum sexo que deve ser aglutinador do outro é o sexo feminino, por razões óbvias, em vários campos determinados pela lei da natureza. Ou não?

Voltemos contudo a Vossa Santidade. O seu antecessor ter-se-ia referido à mulher e ao homem, ou ao homem e à mulher, à semelhança de muitos outros interlocutores (alguns políticos, por exemplo), que põem juntinhos os dois seres quando botam palavra: mulher e homem; homem e mulher. Bonitinho, né? O Papa exaltou a obra do Criador e a escuta da linguagem da Criação, “cujo desprezo significaria uma autodestruição do homem e, portanto, da própria obra de Deus” (Público, 22-12-08). Afinal, diz o piedoso interlocutor, não é só as florestas tropicais que precisam de protecção.

Ora, se do ponto de vista genético-evolutivo os dois sexos são complementares, do ponto de vista da cultura (a grande superioridade humana face aos seus outros semelhantes animais…) já assim não é. Espalhar os genes não é para todos/as e muito menos para provocar descendência. Aliás, a própria Igreja Católica se encarregou de ditar (a dada altura do caminho) que essa não é uma missão nobre do seu clero. Não será isso um crime de lesa-natureza quando, e sobretudo, o clero já deu provas mais do que suficientes de que possui um verdadeiro arsenal de armas “testoterónicas” prontas a explodir sempre que a ocasião dite a acção?

E o que diz o Papa em relação aos animais homossexuais, como certos cães? Põem em causa a obra do Criador? Não há cães suficientes para preservar a espécie? E de certas flores que, sem manipulação genética, assumem coloração distinta levando a que qualquer florista as identifique como defeituosas, sem contudo deixar de as colocar a meio do ramalhete? Etc. Etc.

Não há regra sem excepção. E essa é, precisamente, uma das mensagens da natureza que nos mostra que a diferença existe e que o direito à dignidade da existência deve ser igual em qualquer circunstância.

E se Vossa Santidade começasse por arrumar a casa permitindo que a natureza dos padres também se exprima sexualmente, de acordo com a lei do Criador? A velha Europa ficará eternamente grata. A natalidade irá subir em flecha. As famílias numerosas iriam aumentar e os métodos anticonceptivos, baseados na natureza (da temperatura…) defendidos pela Igreja iriam, finalmente, mostrar quanto valem.

E o futuro europeu estaria mais rejuvenescido, e a raça branca mais preservada da invasão dos bárbaros, e… e….

Amén.


Nota - sugestão de leitura:

Alonso, Isabelle (2001) Todos os homens são iguais ... mesmo as mulheres. Lisboa. Ed Notícias

Monday, January 12, 2009

Pensamento do mês

Existem três classes de pessoas:

aquelas que vêem,

aquelas que vêem quando lhes é mostrado,

aquelas que não vêem.
Leonardo da Vinci

Saturday, January 3, 2009

Pedagogia do coito

Quem sabe conjugar o verbo coitar no presente, no passado e no futuro, sabe que é verdade que o desempenho coital, a performance sexual, depende de vários ingredientes: da experiência, da ocasião, da outra pessoa, da química, do grau de apetência, da capacidade de aquecer, do envolvimento, do grau de repugnância, do espírito de sacrifício, da função instrumental do acto, da inspiração, da imaginação, etc.

Com efeito, um coito pode servir diferentes necessidades: físicas, emocionais (emoções positivas e negativas – explorarei, noutro post este assunto), de contacto com alguém, de desespero, de manutenção de uma ligação, de concepção de um novo ser, de ponto de partida para algo mais, and so on.

É por isso que há vários tipos de sexo: sexo roubado (violações), sexo tolerado (fazer o frete), sexo descartável (aliviar o corpo), sexo instrumental (trabalho), sexo inconsciente (sob o efeito de substâncias várias) sexo hedonista (por prazer), sexo imaturo (para agradar a outra parte) , sexo pressionado (incapacidade de dizer não), sexo por amor (entrega de si próprio), sexo espiritual (dimensão sagrada) e porventura muitas outras modalidades porque o assunto não tem fim e as motivações são múltiplas. Contudo, é nesta última forma que me quero fixar, para já: a do sexo sagrado.

Se os caminhos para Deus são infinitos e se cada ser gnóstico encontrará o seu próprio, então o sexo pode também ser uma das vias para se encontrar com Deus, ou não fosse a sexualidade uma das componentes do equipamento básico da condição humana, e portanto, uma dádiva da criação.

Sigamos Paulo Coelho (um dos autores mais vendidos em todo o mundo, que dispensa apresentações, …), em Onze minutos, na nota final:
“Como acontece a todas as pessoas do mundo – e neste caso não tenho o menor receio de generalizar – foi difícil descobrir o sentido sagrado do sexo. A minha juventude coincidiu com uma época de extrema liberdade nessa área, com descobertas importantes e muitos excessos, seguida de um período conservador, repressivo, preço a ser pago por exageros que realmente deixaram sequelas um pouco duras”.

Ora se para Paulo Coelho lhe foi difícil atingir tal dimensão, imagine-se então para os herdeiros do legado judaico-cristão: sexualidade com culpa (primado do sexo procriativo sobre o sexo “recreativo”), incongruências sexuais (confusão e contradições), homens (sentido literal do termo) divididos entre a razão e o coração, dupla moral (uma moral consentida para os homens e outra intransigente para as mulheres), a castração feminina (mulher eunuco), etc. e já não é pouco. A grande maioria passa ao largo.

Ciente desse facto, Paulo Coelho assume em Onze minutos uma pedagogia do coito. A obra tem como personagem principal uma prostituta, Maria, alguém que à semelhança de todas as prostitutas “tinha nascido virgem e inocente e durante a sua adolescência sonhara encontrar o homem da sua vida (rico, bonito, inteligente), casar (vestida de noiva), ter dois filhos (que seriam famosos quando crescessem) e viver numa linda casa (com vista para o mar). Vista por este prisma, como é injusta a vida! …. Quantas toneladas de desilusões comporta a vida … ?
A tese principal da obra é a de que o acto sexual demora, em média, onze minutos. Maria não deveria estar mais de 45 minutos com um cliente, sendo que o sexo propriamente dito demorava onze minutos. Os restantes seriam passados a despir-se, a conversar um pouco, a fazer algum carinho e a vestir-se novamente. Assim, “O mundo girava em torno de algo que demorava apenas onze minutos” e os seus clientes, homens importantes e arrogantes no seu dia-a-dia, deveriam ser tratados sem constrangimentos e deixados à vontade, já que pagavam 350 francos suíços (a acção decorre na Suíça) “para deixarem de ser eles durante a noite. (…)

E por causa desses onze minutos num dia de 24 horas (considerando que todos faziam amor com as suas mulheres, todos os dias, o que era um verdadeiro absurdo e uma mentira completa) eles casavam, sustentavam a família, aguentavam o choro das crianças, desmanchavam-se em explicações quando chegavam tarde a casa, olhavam dezenas, centenas de outras mulheres com quem gostariam de passear à volta do lago de Genève, compravam roupa cara para eles, roupa mais cara ainda para elas, pagavam prostitutas para compensar o que lhes faltava, sustentavam uma verdadeira indústria de cosméticos, dietas, ginástica, pornografia, poder – e quando se encontravam com outros homens, ao contrário do que se diz, nunca falavam de mulheres.

Alguma coisa estava mal na civilização, e essa coisa não era a desflorestação amazónica, a camada de ozono, a morte dos pandas, o tabaco, os alimentos cancerígenos ou a situação nas penitenciárias como diziam os jornais.

Era exactamente aquilo em que ela trabalhava: o sexo. Mas Maria não estava ali para salvar a humanidade, e sim para aumentar a sua conta bancária…”. (pp.96-97).

Será que Maria se salvou? Aumentou mesmo a sua conta bancária? Que sonhos acalentava? Quem é o misterioso Ralf? E a sua confidente suíça?

Paulo Coelho faz uma reflexão romanceada sobre a actividade sexual, extrapolando o discurso teórico da medicina e da sexologia e centrando-se na prática sexual através de Maria. A obra explora também, com desenvoltura, duas problemáticas eternamente actuais e universais: a do orgasmo no feminino e a do clitóris.

E pronto. Se quiser saber mais só tem de ler 11 minutos, onde não falta, aliás, logo no início, uma passagem do Evangelho de S. Lucas, precisamente a que alude a uma pecadora e à sua defesa por Jesus junto de um Simão preconceituoso.