Monday, November 14, 2011

Sem papas na língua

Serge Latouche


O intelectual alternativo que defende o decrescimento da produção



O futuro passa pelo decrescimento económico. Esta é tese defendida por Serge Latouche durante a IV Conferência Internacional do Funchal, que decorreu nos passados dias 4 e 5 do corrente numa unidade hoteleira do Funchal.
O evento, sob o tema “Merecer o futuro – caminhos num tempo de incerteza”, trouxe ainda à Região Autónoma da Madeira outras personalidades: António Barreto, Júlio Machado Vaz e Gilles Lipovetsky.



O decrescimento: um caminho adequado para o futuro” foi o título da intervenção que o professor Serge Latouche apresentou na IV Conferência Internacional do Funchal. O orador, economista e filósofo de nacionalidade francesa, é um objetor de consciência do consumismo que caracteriza as sociedades ocidentais.

Segundo Latouche, a humanidade está num beco sem saída porque vive numa sociedade de crescimento sem crescimento e por isso só tem duas hipóteses: continuar o caminho actual que só visa o crescimento infinito sem objectivos e esta é a via do desespero e até de mais uma extinção de uma espécie viva, que neste caso seria a sexta, mas a dos humanos , ou inverte a sua marcha, aproveitando o sinal dado pela queda do Lehman Brothers, em Setembro de 2008.

Assim, esta data constituiria um desafio para justificar imperiosamente a necessidade de decrescimento económico, tanto mais que o planeta Terra é finito e não pode comportar um crescimento infinito, inclusive da produção de lixo. A título de exemplo o orador destaca o facto de um terço daquilo que é adquirido nos supermercados ter como destino o lixo. Repare-se que a crença no crescimento infinito que caracteriza as sociedades ocidentais, organizadas sob a égide do consumo, tem a sua origem na revolução industrial. Serge Latouche refere mesmo que se vive dominado por uma religião do consumo, por um egoísmo sem limite e que é preciso falar de “acrescimento” para retomar o contacto com a realidade, que está envolta em economias especulativas, nas quais se inclui a moeda virtual.

Advoga por isso que “temos de ter o sentido do limite” porque não há abundância sem limite e a sociedade frugal seria a resposta a esse desiderato. Uma sociedade frugal assentaria num círculo virtuoso de oito R’s: reavaliar, reconceptualizar, reestruturar, redistribuir, relocalizar, reduzir, reutiliza e reciclar. Com este programa alcançar-se-iam metas como: a redução dos transportes (um iogurte, por exemplo, percorre 9 mil km para chegar à casa dos consumidores); a restauração da agricultura camponesa, biológica e que respeite o ambiente; a reafectação dos ganhos de produtividade, reduzindo o tempo de trabalho e criando mais emprego; a diminuição do consumo de energia; a restrição do espaço publicitário, etc.

Em suma, uma sociedade frugal seria uma sociedade sustentável, assente num modelo alternativo ao existente desde a idade moderna, quando se passou a associar a sociedade do bem-estar ao ter/possuir. Daí que Latouche proponha o relançamento da produção de bens relacionais – mais intercâmbio entre as pessoas, mais convívio, mais amor, etc. – consumos estes que seriam alternativos, em boa parte, ao consumo dos bens materiais, Deste modo, os valores individuais seriam alterados e as sociedades seriam encaradas num ótica de felicidade, possibilitando, preferencialmente, a medição do Ìndice de Felicidade Bruta (FIB) em detrimento do PIB (Produto Interno Bruto).

Serge Latouche é um revolucionário pacífico que tem o sentido crítico e acutilante da realidade, como se pode percebe na apresentação que faz na brochura da conferência;. “A via do decrescimento consiste quer na resistência quer na dissidência perante o rolo compressor do processo de ocidentalização do mundo e do totalitarismo rastejante da sociedade de consumo globalizada. Quando os objectores do crescimento entram na clandestinidade e, a par dos Ameríndios, procuram trilhar caminho nesta luta, estão a apontar para a construção de uma civilização de sobriedade escolhida, alternativa ao beco sem saída da sociedade do crescimento, e contrapõem-se ao terrorismo da cosmocracia e da oligarquia política e económica, recorrendo preferencialmente a meios pacíficos: a não-violência, a desobediência civil, a defecção, o boicote e, claro, às armas da critica”.

Saliente-se ainda que este evento foi moderado pelo professor Viriato Soromenho-Marques e organizado pela Câmara Municipal do Funchal. Durante a sessão de abertura Soromenho aludiu a Hegel que referiu que as épocas felizes são páginas em branco na história da humanidade. Precisamente para Serge Latouche, discípulo de Ivan Illich (um importante pensador austríaco crítico da sociedade moderna e pós-moderna) a sociedade de consumo traíu a promessa de felicidade porque as pessoas felizes “não precisam de consumir”.
Serge Latouche é autor, entre outras, da obra O pequeno tratado do decrescimento sereno, editado em Portugal pelas Edicões 70.

Wednesday, August 24, 2011

Funchal faz anos

O Funchal celebrou a 21 do corrente o seu 503º aniversário. Aqui fica a minha resposta dada ao Tribuna do Funchal (semanário), edição de 18/8/11. A pergunta era:

Se pudesse formular um desejo para a cidade do Funchal no aniversário desta, qual seria e porquê?

Uma cidade livre dos sem abrigo, é esse o meu maior desejo para a cidade do Funchal. Mas atenção, não é remetê-los para as periferias da cidade; é proporcionar-lhes mais conforto, deixando abertas instalações para uso nocturno, por exemplo e numa primeira fase, e não apenas quando o tempo se faz sentir com mais rigor. E depois adequar programas de ressocialização que passam por alojamentos provisórios, etc.
Sabia que em França, tornar-se sem abrigo é um dos maiores medos das pessoas ditas normais? 60% dos franceses têm este fantasma a pairar sobre as suas cabeças. Se pensarmos que o desemprego potencializa esse risco, então temos razões sérias para nos preocuparmos pois é um fenómeno crescente, que põe em causa o modelo social europeu e a coesão social das sociedades da abundância (para uns…) , o que é trágico. O Estado tem fortes responsabilidades neste fenómeno!


PS - Não perca a resposta de outros inquiridos. Consulte edição online e/ou papel, tá?

Saudações

Tuesday, August 9, 2011

Entrevista


Já nas bancas!

Último Tribuna da Madeira com entrevista a Zina Abreu.

Veja tudo sobre o "monstro" que cada um de nós carrega! A não perder!

Thursday, June 30, 2011

Sr. Presidente ou Srª Presidenta? - Sociedade - Magazon

Olá a todas/os

Chamo a vossa atenção para a minha crónica. Com a qualidade de sempre!


Sr. Presidente ou Srª Presidenta? - Sociedade - Magazon

Wednesday, March 23, 2011

CEHA com discurso no feminino



Foi de cinco estrelas a minha palestra do dia 16: houve discursos no feminino, música, poesia e debate, no masculino, também.
A minha estrela e a minha estreia no Centro de Estudos de História do Atlântico foi brilhante.
O dia é simbólico para mim: aniversário de papai, que me acompanhou com orgulho lá dos céus, onde vive agora.
Há três anos, precisamente, lançava eu na FNAC o meu segundo livro : O Ocidente e o luxo das arábias, ed Papiro.
Modéstia à parte é um livro com excelentes contos, bem escrito, com humor, com sumo e com a qualidade que me distingue. Só é pena não ser reconhecido pelo grande público. Por enquanto, note-se bem!

Monday, March 14, 2011

Zina Abreu no Jornal da Madeira - 13/03/11

Partilho convosco o dossiê sobre os jovens, elaborado pelo Jornal da Madeira na edição de domingo, a propósito da manif de sábado, 12/3/11.
Eu estou lá... no dossiê!
Não percam!

Bjs e abraços e luz e paz e amor!


Dossiê
Jovens estão à procura de respostas
A geração “à rasca” saiu ontem à rua em várias cidades portuguesas, incluindo o Funchal, estendendo-se ainda às cidades europeias onde existem portugueses. À hora marcada, a geração jovem que actualmente é denominada de “à rasca”, de geração “deolinda” e ainda de geração dos “quinhentoseuristas” pediram respostas aos seus problemas, que são muitos. “Pelo direito ao emprego! Pelo direito à educação! Pela melhoria das condições de trabalho e o fim da precariedade! Pelo reconhecimento das qualificações, competência e experiência, espelhado em salários e contratos dignos e porque não queremos ser todos obrigados a emigrar, arrastando o país para uma maior crise económica e social!” foram os motivos que levaram estes cidadãos anónimos que se dizem apartidários, laicos e pacíficos a realizar esta iniciativa de protesto que foi ganhando forma nas redes sociais.
Estes jovens já tinham tentado mostrar o seu desagrado ao primeiro-ministro, José Sócrates, quando este discursava como secretário-geral do PS durante um jantar, na cidade de Viseu, mas foram silenciados. E se nesse dia era Carnaval e “não se podia levar a mal” como disse José Sócrates, ontem toda a gente ouviu o que os jovens tinham para dizer.
Para analisar o movimento da geração “à rasca” que, nas últimas quatro semanas tem ganho grandes proporções essencialmente nas redes sociais, o Jornal da Madeira contactou uma politóloga, uma socióloga e um profissional da comunicação social que deram as suas visões sobre o assunto. Das três visões há um ponto em comum: os jovens estão à procura de respostas.

Pode ser o início de contestações

A politóloga Albertina Henriques considera que o Movimento Geração “à Rasca” é um grupo de jovens que se juntou para obter uma resposta «e essa resposta não chega, antes pelo contrário agrava, daí juntarem-se para transmitir as suas ideias». «É evidente que isso advém da situação que estamos a viver do ponto de vista económico, em que, sobretudo os jovens, são os que estão a ser mais prejudicados e, como tal, não vêem alternativas à situação em que se encontram e acabam por se manifestar», considera Albertina Henriques.
Realçando que a violência, em princípio, não fará parte deste movimento, a especialista prevê que o movimento se torne mais activo num futuro próximo. Considerando que ainda é muito cedo analisar se este grupo poderá dar o mote a uma maior agitação, Albertina Henriques destaca que poderá «ser o início de fortes contestações».
Contudo, sublinha, o movimento não tem por objectivo «retirar alguém para colocar outro alguém no poder, o objectivo nem sequer é esse, é dizer aos políticos que existem, que os jovens estão em inúmeras dificuldades, que se sentem altamente penalizados, que não encontram alternativas e que precisam de uma resposta». E a resposta para este desalento foi mesmo a de sair à rua.
A acompanhar a voz dos manifestantes há duas novas músicas, já consideradas de intervenção. As músicas de intervenção, quer dos Deolinda, quer dos Homens da Luta, «estão a ressurgir de forma significativa». Na opinião de Albertina Henriques, estas canções passaram a ser «um símbolo do jovem português actual que está em dificuldades».

Aproveitamento político é lamentável

Já Luís Filipe Malheiro, formado em Comunicação Social, diz, sobre este movimento de jovens, que «é só uma forma de alertar as pessoas, neste caso o poder, para os problemas que hoje se colocam à malta mais nova, o desemprego de licenciados e não licenciados é elevado e nem governo, nem empresas têm respostas», lamentou. «Isto foi um alerta à classe política, é certo, para que tomem medidas no emprego jovem, mas não vai resolver os problemas deles». Filipe Malheiro continua, afirmando que «é lamentável que a iniciativa, que foi um acto de desabafo dos jovens, possa ser aproveitada por partidos políticos para aparecer. São os chamados “emplastros” e que acabam por prejudicar estas iniciativas».


Esta geração “à rasca” o que quer é emprego, porque quer ter a sua própria independência e não a pode ter, porque não tem estabilidade financeira.


Confrontado se a manifestação de ontem pode dar o mote para uma maior agitação social, Luís Filipe Malheiro «está convencido que pode ser um rastilho e irá acontecer uma maior agitação se houver mais cortes nos salários e nas prestações sociais e uma nova subida de impostos».

Expectativas estão invertidas

No entender da socióloga Zina Abreu, este movimento da geração “à rasca” pode ser o mote para uma agitação social se o governo central não efectuar mudanças urgentes. Aquela especialista defende que o Estado deveria aplicar uma profunda reforma realizando cortes profundos na sua gestão. Deveriam «acabar com as derrapagens nas obras públicas, com o duplo emprego na função pública, aplicar com rigor a lei das incompatibilidades, acabar com subsídios de representatividade, diminuir os ordenados elevados dos administradores da TAP e RTP, para que a população veja que não é apenas ela a sacrificada», salienta.
Realçando que todas as gerações tiveram as suas dificuldades, se antes do 25 de Abril eram as questões dos valores morais, actualmente as dificuldades prendem-se com os valores materiais. «A geração antes do 25 de Abril tinha problemas ao nível das relações, como por exemplo namorar era um problema, agora a actual geração tem tudo isso, mas não tem o emprego e a estabilidade que a outra teve. Aqui há uma contradição, esta geração foi a que teve mais bens na infância e juventude, no entanto é aquela que tem o desafio do trabalho na idade adulta». As expectativas dos jovens destas duas gerações estão invertidas.
Neste sentido, Zina Abreu defende que os jovens devem fazer pressão aos seus pares para exigir mais emprego, porque cada vez mais é «um bem escasso». «Por exemplo os jovens advogados devem exigir que os que já estão na reforma e continuam a trabalhar que o deixem de fazer», alertou. O mesmo acontece com os enfermeiros, muitos deles acumulam duas funções e devem também deixar lugar para os mais novos, alerta aquela socióloga.
Quanto ao protesto de ontem, Zina Abreu considera que o Estado tem gerido mal ao fazer muitas promessas que não estão a ser cumpridas, daí esta manifestação de desagrado.

Músicas de intervenção dão o aviso

Depois de 1974, as músicas de intervenção passavam nas rádios apenas para recordar a luta dos portugueses na mudança de regime. Passados tantos anos, as músicas de intervenção voltaram a ser produzidas. A primeira foi “Que parva sou” do grupo “Deolinda” e o assunto até chegou ao parlamento nacional. “Que mundo tão parvo/ onde para ser escravo é preciso estudar”, pode ouvir na canção dos Deolinda.
A segunda música é mais interventiva e surpreendeu tudo e todos ao vencer o Festival RTP da Canção, com o voto do público. “De noite ou de dia, a luta é alegria/ E o povo avança é na rua a gritar” são os versos que irão representar Portugal no Festival Eurovisão da Canção. Uns aplaudem o feito, outros não, a verdade é que estas músicas não dão para iniciar uma revolução, mas dão o aviso ao governo central de que algo está mal.

«Vale mais uma nota sentida do que uma nota afinada»

Os Homens da Luta consideram que venceram o Festival RTP da Canção pela “atitude”, acreditando que “vale mais uma nota sentida do que uma nota afinada”.
A canção “A luta é alegria”, com letra de Jel e música de Vasco Duarte, venceu o Festival RTP da Canção e vai à Eurovisão em Maio.
A escolha da canção não é alheia ao momento que se vive no país, considera Jel, um dos Homens da Luta, em declarações à Lusa e que minimizou os apupos que se ouviram aquando do anúncio do vencedor.

Manifesto a oito mãos

Três dias, uma canção dos Deolinda e mais de 800 comentários na rede social Facebook inspiraram a escrita a oito mãos do manifesto que deu as palavras para o protesto de sábado da “geração à rasca”. A ilustração do movimento resultou do “contributo espontâneo de um rapaz”, conta à Lusa Paula Gil, ‘dona’ de duas das oito mãos. A 4 de Fevereiro, Paula, Alexandre, João e António, à mesa de um café de Lisboa, falaram, como outras vezes, da “situação do país”. “E concluímos que não éramos só os quatro”, relata Paula. Perceberam que tinha “chegado a altura para mostrar” uma geração de “muitos com problemas de emprego, precariedade, desemprego”.
A letra da música “Parva que sou”, dos Deolinda, ajudou a provar a “consciência muito social e que não há só casos individuais”. Da conversa, partiram para a criação da página no Facebook.
Em três dias, os comentários ultrapassaram os 800, na sua maioria de pessoas que os quatro não conheciam. Tiveram, então, a certeza que não estavam sós e perceberam que “fazia sentido” avançar com uma “espécie de manifesto” que pudesse servir de definição e identificação.
Da “reunião”, que durou a “tarde e noite”, resultou o manifesto, já em seis línguas, dos “desempregados, ‘quinhentoseuristas’ e outros mal remunerados, escravos disfarçados, subcontratados, contratados a prazo, falsos trabalhadores independentes, trabalhadores intermitentes, estagiários, bolseiros, trabalhadores-estudantes, estudantes, mães, pais e filhos de Portugal”.


Discursos no feminino

E assim acontece:

Discursos no feminino - olhares cruzados sobre questões de género

Por Zina Abreu, no Centro de Estudos de História do Atlântico

16/3/11, às 18h, Rua das Mercês, 8.


Até lá! Apareçam que vale a pena! Com a qualidade de sempre!

Saturday, February 5, 2011

A realidade(in)visível



Olá a todos


Anuncio-vos o meu último artigo em


Chama-se:

Hereafter - A realidade(in)visível

É sobre o último filme de Clint Eastwood.

Com a qualidade de sempre.

Bem hajam!