Thursday, February 1, 2007

Está na hora! Do sim…

O mundo é como é. Tem muitos aspectos “feios, porcos e maus”. Por isso, quem quiser enquadar o tema da Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG) nesse contexto, faça o favor.

No referendo que ora se aproxima está em discussão a IVG até às dez semanas. Deverão as mulheres continuar a ser julgadas em praça pública? Este parece ser um argumento já muito estafado mas, na verdade, é disso que se trata.

Quer queiremos quer não a IVG vai continuar a existir, seja ou não despenalizada. Não há erradicação possível para muitos dos comportamentos humanos, mesmo que eles sejam considerados pecados, vícios, manias, crimes, e mesmo que o preço a pagar seja a vida, o repúdio, o exílio, a marginalização, o desprezo, a prisão. É genético. E é cultural.

Além disto, não há unanimidade possível entre os seres humanos. Em caso de gravidez haverá sempre duas atitudes: a aceitação para umas e a rejeição para outras. Não saímos disto e não podemos obrigar ninguém a ser mãe, caso não deseje. A maternidade não se resume ao acto biológico de dar à luz. Como pode cuidar bem de uma criança, anos a fio, quem a não quer? Uma criança não desejada “está muitíssimo mais sujeita à negligência e a abuso que as outras crianças” [1].

Durante séculos e séculos as mulheres viram os seus pais, maridos e irmãos decidirem por elas. Isso ainda acontece noutras culturas. Não será este o tempo de deixar que elas tenham a última palavra sobre o seu corpo, independentemente de se aconselharem primeiro com quem quiserem? Em Espanha é assim, mesmo com uma lei muito semelhante à nossa. Os espanhóis dignificam a mulher, valorizam e respeitam a sua opção. Ela decide a bem da sua saúde mental. Entre os nuestros hermanos as estruturais patriarcais da sociedade têm dado lugar à maior igualdade de género. É por isso que eles já estão a anos luz de nós em matéria de desenvolvimento. De Espanha também podem vir bons ventos e bons casamentos e temos muito a aprender com eles em matéria da regulamentação de assuntos delicados.

É por tudo isto, e a bem do realismo, que votarei sim no próximo referendo à IVG.

Zina Abreu




[1] Levitt & Dubner (2006) Freakonomics. Lisboa: Ed. Presença.