Tuesday, January 13, 2009

A natureza é que sabe

Vamos salvar os humanos?
Vamos!
De quê?
De comportamentos aberrantes: homossexuais e transexuais.
Ferramentas?
Uma espécie de “ecologia do Homem”, segundo Bento XVI, o Papa.
Do Homem?

Pobre Olympe de Gouges que deve estar a dar voltas na tumba. Afinal, de que serviu ser guilhotinada em 1793, durante os excessos da Revolução francesa?
Olympe de Gouges é autora da Declaração dos Direitos da Mulher e da cidadã (1791) – ver nota infra. Quem já ouviu falar dela que levante o braço! Tem um rebuçado como prenda!
Olympe de Gouges deu-se ao trabalho de escrever tal obra porque não se reviu na Declaração Universal dos Direitos do Homem (1789). Segundo ela, tal declaração dizia respeito aos homens, no sentido literal do termo.
Além disso, se há algum sexo que deve ser aglutinador do outro é o sexo feminino, por razões óbvias, em vários campos determinados pela lei da natureza. Ou não?

Voltemos contudo a Vossa Santidade. O seu antecessor ter-se-ia referido à mulher e ao homem, ou ao homem e à mulher, à semelhança de muitos outros interlocutores (alguns políticos, por exemplo), que põem juntinhos os dois seres quando botam palavra: mulher e homem; homem e mulher. Bonitinho, né? O Papa exaltou a obra do Criador e a escuta da linguagem da Criação, “cujo desprezo significaria uma autodestruição do homem e, portanto, da própria obra de Deus” (Público, 22-12-08). Afinal, diz o piedoso interlocutor, não é só as florestas tropicais que precisam de protecção.

Ora, se do ponto de vista genético-evolutivo os dois sexos são complementares, do ponto de vista da cultura (a grande superioridade humana face aos seus outros semelhantes animais…) já assim não é. Espalhar os genes não é para todos/as e muito menos para provocar descendência. Aliás, a própria Igreja Católica se encarregou de ditar (a dada altura do caminho) que essa não é uma missão nobre do seu clero. Não será isso um crime de lesa-natureza quando, e sobretudo, o clero já deu provas mais do que suficientes de que possui um verdadeiro arsenal de armas “testoterónicas” prontas a explodir sempre que a ocasião dite a acção?

E o que diz o Papa em relação aos animais homossexuais, como certos cães? Põem em causa a obra do Criador? Não há cães suficientes para preservar a espécie? E de certas flores que, sem manipulação genética, assumem coloração distinta levando a que qualquer florista as identifique como defeituosas, sem contudo deixar de as colocar a meio do ramalhete? Etc. Etc.

Não há regra sem excepção. E essa é, precisamente, uma das mensagens da natureza que nos mostra que a diferença existe e que o direito à dignidade da existência deve ser igual em qualquer circunstância.

E se Vossa Santidade começasse por arrumar a casa permitindo que a natureza dos padres também se exprima sexualmente, de acordo com a lei do Criador? A velha Europa ficará eternamente grata. A natalidade irá subir em flecha. As famílias numerosas iriam aumentar e os métodos anticonceptivos, baseados na natureza (da temperatura…) defendidos pela Igreja iriam, finalmente, mostrar quanto valem.

E o futuro europeu estaria mais rejuvenescido, e a raça branca mais preservada da invasão dos bárbaros, e… e….

Amén.


Nota - sugestão de leitura:

Alonso, Isabelle (2001) Todos os homens são iguais ... mesmo as mulheres. Lisboa. Ed Notícias

1 comment:

Jorge P. Guedes said...

Da acanhada visão do Papa, de qualquer "Papa" de qualquer igreja, já todos sabemos.
A Igreja vive os seus dogmas e continua a pregá-los como se o mundo e a evolução cultural do Homem tivesse parado há mais de mil anos.
Não esperaria, pois, outra coisa diferente vinda daquelas bandas.

Gostei do texto.
Um abraço e obrigado pela visita.