Wednesday, May 27, 2009

Pensamento do mês


"O sucesso é a capacidade de  

avançar de um fracasso para outro

 sem perder o entusiasmo".

Winston Churchill

Tuesday, May 19, 2009

Olho por olho ...

Podem Anjos e Demónios agir com as mesmas armas? Podem!

Então, qual a diferença entre eles?
É disto que trata, em parte, Dan Brown, no seu livro Anjos e Demónios, cujo filme homónimo estreou na 5ª passada, em todo o país (coisa rara...).

A diferença está em quem começou, primeiro, a sucessão de horrores. Neste caso foi a Santa Madre Igreja, Católica, Romana, Apostólica, através de purga efectuado no séc. XVI. Uma purga é uma "limpeza", uma limpeza da ciência através da execução, em praça pública, de quatro cientistas que pertenciam à sociedade secreta Iluminatti (Galileu era um dos membros, segundo consta). A sua execução foi um aviso (e que aviso !!!) para que a ciência não ousasse pôr em causa a verdade e a ortodoxia politicamente correctas que a Igreja quis fazer passar a todo o custo. Muitos acredita(ra)m, como se sabe!

Resultado? Séculos e séculos de ressentimentos da ciência para com a Igreja de tal modo que, para a ciência se impôr e crescer, teve de fazê-lo de costas voltadas para com a Igreja. Ambas nutriram entre si um ódio de estimação.

No filme, os Iluminatti fazem uma revanche, em diferido, quatro séculos depois. É um ajuste de contas pela humilhação sofrida pelos cientistas. Justifica-se? Aos seus olhos sim. No entanto, crime é crime. Faz sentido pagar-se numa mesma moeda o mal que é feito por certos algozes, ainda por cima em nome de Deus? Não faz sentido, mas compreende-se. É a forma mais imediata e mecânica de reacção. Quando se começa uma vingança do tipo "olho por olho, dente por dente" entramos numa escalada que não tem fim. Veja-se o caso da Palestina e de Israel.

E quem lucra com isso? Todos perdem. Curiosamente, no filme, a primeira vítima foi o cientista-padre, que trabalhava no CERN, e que queria recriar a origem do mundo (o pai da Drª Vectra, para quem leu o livro, como eu, dado omisso no filme) de acordo com a chamada partícula de Deus, ou bosão de Higgins, a anti-matéria.

O cientista-padre representa a síntese entre a ciência e a religião. E agora? Talvez falte trabalhar nessa base: ciência e religião e olhar na mesma direcção. É possível, mas para já, quem não ficou contente com o ressuscitar desta história foi a própria Igreja Católica, Romana, Apostólica, etc. que dificultou a vida ao realizador do filme e que considera Dan Brown um hereje da actualidade. Só não o manda para a fogueira porque hoje já há muitos herejes...

Mas afinal: Deus é monopólio de alguém?

Saturday, May 9, 2009

Comer, beber e ... orar

Por estes dias, "todos" os caminhos vão dar a Fátima: o altar do mundo, como a própria gosta de se apresentar.

Uns vão por fé, outros por moda, outros ainda porque é mais um destino no seu roteiro turístico, ou para celebrar anualmente o aniversário e sabe-se lá por que razões mais. Deslocam-se a pé, peregrinos na sua maioria com os coletes reflectores que usam para sua maior segurança, ou deslocam-se em autocarros nacionais e internacionais, ou ainda em carros particulares.

Seja pelo que for o resultado é o de uma cidade que se organizou, e muito, à volta do fenómeno de Fátima. Abundam assim as rotundas, os hóteis, o comércio de velas, rosários, estatuetas e afins, as pastelarias, os restaurantes, as ruas, os museus, tudo em nome dos três pastorinhos todos juntos, ou só da Jacinta Marto, ou só do Francisco Marto, (Lúcia, como morreu há pouco tempo, não tem direito, ainda, a honrarias que só o distaciamento temporal permite), ou com o nome Fátima, da cova da Iria e por aí fora.

É um negócio florescente. Parece estar bem de saúde. Fora este um negócio do mundo antigo e Fátima escancaria, também, o negócio da prostituição, conhecido como prostituição sagrada. Como refere, por exemplo José Tolentino Mendonça (ver nota), citando Heródoto (490/480 a.C.) na Babilónia (actual Iraque) toda a mulher natural do país tinha de ir, uma vez na vida, ao santuário de Afrodite e "unir-se a um homem estrangeiro. Muitas, evitando, por desdém, misturar-se com as outras, soberbas como são das suas riquezas, fazem-se transportar ao templo em carros cobertos e colocam-se ali, rodeadas por numerosas servas. Mas a maioria faz assim: no santuário de Afrodite põem-se sentadas com uma coroa de corda (sinal de obediência à deusa) em torno da cabeça; umas chegam, outras partem. Em todas as direcções, por entre as mulheres, existem passagens e atravessando-as os estrangeiros escolhem. Quando uma mulher tomou lugar ali não regressa a casa sem que um estrangeiro, atirando-lhe umas moedas, se tenha unido a ela" (p.23).
Ora bem. Muito haveria a dizer sobre este assunto e sobre esta citação. Porém, como Fátima não faz parte do mundo antigo a prostituição não pode ser sagrada e fica-se pelo lado oculto, no segredo de quem procura tais vivências. Por estes dias também se dirigem a Fátima prostitutas (que concorrem com as residentes) que vêem nos inúmeros peregrinos uma oportunidade de negócio, à semelhança de outros fenómenos que movimentem as massas: expos, campeonatos de futebol, etc.
No fundo, à volta de Fátima e do sagrado, vive-se o profano e joga-se a vida em todas as suas dimensões: comer, beber e ... orar.
Nota - Mendonça, José Tolentino (2003) As Estratégias do desejo. Lisboa, Ed. Cotovia