Tuesday, March 31, 2009

Fazer amor e não guerra

O sexo em troca da paz. Ou era assim ou não havia nada para ninguém.
Onde? Na comédia de Aristófanes: Greve de sexo, ou Lisístrata.
O tema da peça, escrita muito antes de Cristo - exibida até 30 /03 no Teatro Municipal do Funchal - continua em voga. Então não é que no último final de ano umas nativas da Bella Italia, mais concretamente de Nápoles, resolveram imitar as gregas mas, em vez de sexo pela paz, trocavam sexo pelo fogo de artifício do réveillon. Não queriam que os maridos, os amantes, os namorados e afins corressem o risco de ficarem estropiados e de as deixarem à nora. Ninguém sabe se a greve resultou porque, uma coisa é certa: é preciso cumplicidade entre o mulheredo para que as coisas resultem, caso contrário, com tanto mulherio a furar a greve a coisa fica comprometida .... e pode ficar feio para as autoras da greve.
No caso do nosso amigo Aristófanes o assunto ficou resolvido porque o mulherio, sob o comando de Lisístrata, resistiu unido, embora com incalculáveis sacrifícios e ameaças de fura-greve. Assim, vimos que o "mulheredo unido jamais será vencido". E os homens puderam, enfim, após muito sacrifício, assinar o armistício, e trocar as armas da guerra pelas armas do amor. "Às armas, às armas", ao encontro das mulheres, marchar , marchar. E foi o que fizeram e ficaram todos a ganhar... E o amor andou no ar. E a guerra findou!

Monday, March 30, 2009

Pensamento do mês


Tal como a felicidade, a decepção vem de dentro.

Mike Dooley

Monday, March 23, 2009

O que é natural é bom

Facto: dois rapazitos, de onze/doze anos, em plena época escolar, às 9h e pouco da manhã, a calcorrear a areia preta da baía do Funchal, ali à esquerda, quem avança pelo cais adentro, o que pode significar?
Gazeta! Os malandros fizeram gazeta! Provavelmente! Ah! Pensei eu. Mas se a fizeram tiveram muito bom gosto, sim senhor. Por mim estão perdoados, abençoados e podem ir em paz. Convenhamos: há lá melhor coisa do que passear à beira-mar, logo de manhã cedo (para mim a qualquer hora serve), num dia cheio de sol, com a musicalidade do mar ali mesmo aos nossos pés? Hã? E ainda por cima com toda a envolvente a espelhar harmonia, bem-estar e felicidade. Hã?

Há uns anos atrás eu, Zina Abreu me confesso, não teria usufruído dessa bonança. Encarava as pessoas que logo de manhã iam ver o mar, ou andavam nos jardins sem criancinhas, ou não estivessem a cair aos bocados, ou não fossem turistas, como pessoas que estavam desocupadas por n razões e que, à falta de melhor, utilizavam os expedientes da natureza para ocuparem o tempo, assim como uma espécie de actividades de tempos livres grátis.

Hoje não penso assim e, por mais coisas que veja no mundo, uma coisa me tem surpreendido sempre: a obra da natureza é incomensuravelmente maior que a obra humana, por mais que esta possa ser grandiosa. E é, sem dúvida. Notável até. Mas…

E então, vai daí ao “despois”, hoje pude muito bem ficar “a ver navios” que não me importei. E até o porto estava cheio, tendo um barco atracado ao largo e outro, muito grande, que chega ao domingo ao meio-dia e parte na segunda-feira às 17 horas para outras paragens, estava fora do sítio do costume. Mas estava lá e mais perto do meu ponto de miragem.

E a Primavera chegou. E … E …. E ….

Friday, March 13, 2009

Contas a zeros...

Nas pinturas? Zero!

Nos baixos-relevos egípcios? Zero!

Na estatuária grega ou romana? Zero!

Nas fotografias? Zero!

Nas fontes escritas? Zero!


Onde estão as provas de amor entre os homens-pais e os seus filhos ao longo dos tempos? Zero!

Todos estes registos mostram tudo menos um homem com um filho nos braços mas, pelo contrário, mostram homens-guerreiros, homens-caçadores, homens-monarcas, homens-cavaleiros, junto dos seus símbolos de poder.

Resultado? À vista desarmada temos uma herança de homens pobres. Pobres como pessoas, destituídas de uma das mais ricas expressões humanas, precisamente a da manifestação da ternura, do afecto, das emoções e do amor.

Não será esta pobreza do ser masculino uma das causas do seu mal-estar actual? Um mal-estar que se exprime significativamente através do único canal de expressão que os próprios homens se têm autorizado ao longo dos tempos? O da expressão sexual !!! É por isso que os homens juntam a expressão sexual à única forma demonstrada de superioridade que têm de facto: a da sua superioridade física.

Munidos com esse património pessoal e auxiliados pelo poder das armas e do dinheiro espalham o terror emocional e sexual através da pedofilia e do tráfico humano, sobretudo de mulheres e crianças usadas para fins sexuais. Quem são eles? São médicos, padres, professores, proxenetas, homens de todos os quadrantes sociais e de todas as latitudes, que não poupam ninguém, desde a própria família e aqueles a quem o dever da profissão lhes impõe o relacionamento, até ao sexo pago.
Reproduzirão estes homens situações de que foram vítimas? Vêem neste tipo de comércio humano uma oportunidade de negócio acima de tudo e de todos?

O desnorte masculino e o seu baixo Quoficiente de Inteligência Emocional em matéria de afectos, arrastam atrás de si uma onda de destruição. Até Quando?


A esmagadora maioria das pessoas adultas guarda dos seus pais-homens a memória de uma tareia, mas pouca ou nenhuma memória de afectos, de um colo, de uma confidência, de uma intimidade saudável. É triste. Muito triste.

Os homens não amavam os seus filhos ???? Sabe-se lá. Se amavam, não demonstravam!


Valha-nos o novo Adão que começa a despontar. Vemo-los nos centros comerciais, nos parques, nas ruas. Empurram carrinhos de bébé, levam os filhos ao colo, acompanham-nos ao médico, brincam com eles, etc. etc. É ainda pouco. Muito pouco e sabe a novo mas, já é alguma coisa ... na história do Adão.

Feliz dia do pai.

Friday, March 6, 2009

Arafat revisitado

Vem aí o Dia do Consumidor e o que é que o Arafat, que está bem morto e enterrado, tem a ver com o assunto?

Ora Arafat tem tudo a ver e, o pior, é que as pessoas nem sabem disso. Nem ele, obviamente. E a prova é tão evidente, ora se é, que até é carregada ao pescoço, como se isso fosse uma cruz da vida. É a cruz da condição humana, neste caso de rendição à sociedade de consumo. Então vejamos:

Qual é a coisa, qual é ela, que sem ser amarela, pode também sê-lo?

Qual é a coisa, qual é ela, que preto tinha concerteza, e franjinhas de certeza?

O que é? O que é?

Tãtãtãtã!!!

Palpites ???

É o lenço. O lenço árabe, o keffiyeh, que Arafat popularizou como símbolo revolucionário e da resistência da causa palestina, agora descontextualizado e transformado em objecto de moda. É isso a sociedade de consumo: a sua capacidade de pegar em qualquer peça, de inspiração multi-étnica, ou outra, e elegê-la em objecto de moda sem que as pessoas que a usam saibam aquilo que está por detrás da coisa.
Interessa o uso, mecânico, repetitivo e exaustivo. A consciência não.
Para que é que serve, perguntarão alguns? De facto, não serve para grande coisa. Também se vive sem grandes consciências, né? Os básicos bem o provam e, certamente, não estão incomodados com o assunto. Usam e deitam fora. A sociedade de consumo agradece.
Mas para quem quer mais, mais da vida, mais de si, mais de tudo, a consciência interessa. E muito. É por isso que eu escrevo, além do prazer da própria escrita em si:
para aumentar a minha auto-consciência do mundo de que faço parte.
É este o meu desafio ... fazer a viagem da vida o mais acordada possível.
Tãtãtãtã!


Monday, March 2, 2009

A feminista e a feminina


Lá vão elas: trá lá lá, tri ti ti, trá lá lá, tri ti ti. Vão formosas. Vão cheirosas. Mas vão seguras? Equilibram-se em saltos altos. Usam maquilhagem. Põem decotes e mini-saias e a cintura à mostra. Embrulham-se em trapos de inúmeros formatos, padrões, texturas e cores. Deixam as unhas compridas (naturais, de porcelana ou gel). Saiem à noite. Fazem directas. Bebem shots. Têm aventuras sexuais. Insuflam-se com silicone e fazem plásticas. São loiras, multicolores e colocam extensões no cabelo. E dizem-se femininas. Feministas é que não. Femininas sim, feministas não. Porquê?

Que representações mentais passam por aquelas cabecinhas tão arranjadinhas, cuidadas com tanto esmero e tempo investido?

Provavelmente ainda povoam nas suas mentes o imaginário dos anos setenta e dos estereotipos então associados e que perduram no tempo por serem desacreditados pelas estruturas de poder: que as feministas são umas raivosas que queimaram os soutiãs na fogueira… (nada comparado aos tempos do inquisidor-mor Torquemada, embora a fogueira seja o elo comum …), que têm aparência descuidada, masculina até (buço e pêlos nas pernas), são histéricas (como se não houvesse homens histéricos), não gostam de homens (é mentira, sim senhor!) e são umas mal-amadas (há alguém que se sinta absolutamente bem-amado?).

Ora bem. Conhecem alguma reivindicação que não seja feita com alguns excessos? Alguém dá algo de livre vontade? Entre pais e filhos como é? Como foram as lutas pelo direito à auto-determinação das então colónias? E a luta dos movimentos abolocionistas da escravatura? E os direitos dos negros na América, simbolizados por Rosa Parks (recusou ceder o seu lugar num autocarro a uma pessoa branca, como era suposto ter feito)? Hã?

Tá bem. Os homens sentiram-se ameaçados e temeram ser descartados. É mais do que um justo receio. Um homem sem mulher? Nã! Não pode ser. Uma mulher tem de ter rédea curta se não sabe-se lá o que pode acontecer… E um homem? É aí que está o busílis da questão. Os homens querem dois pesos e duas medidas: uma para eles e outra para elas. Está certo? Nã!

Ser feminista é querer ter direitos iguais e deveres iguais para homens e mulheres. Não somos todos pessoas? É querer ter a paridade em tudo: na economia, na política, no poder militar, na comunicação social, em casa, etc.

Temos dúvidas de que ainda falta fazer muito? Basta vermos as fotos do corredores do poder: das assembleias, das cimeiras internacionais, etc. etc. Afinal se a igualdade se fizesse por decreto legislativo já este seria o melhor dos mundos. O paraíso, até.

E então? Porque contentar-se com pouco se podemos ter mais? Quem pensa pouco tem pouco, quem pensa em grande tem grande. Cá por mim quero tudo: ser feminina e feminista. E sou. Tudo isso.

Feliz dia da mulher. Vamos estrear algo? Elas: porque sim. Eles: porque não? trá lá lá, tri ti ti, trá lá lá, tri ti ti. Vão formosas e vão seguras!