Monday, February 23, 2009

Pensamento do mês

Quando o poder do amor se sobrepuser ao 
amor ao poder, o mundo conhecerá paz.

Jimi Hendrix

Wednesday, February 18, 2009

Choques em cadeia

Pode. Mas não deve. Fazer amor com quem gosta. Porquê? As convenções sociais estão primeiro e diferem manifestamente para as mulheres e para os homens.

Resultado? Aquilo que parecia ser um sonho, aos dezoito anos, provoca um sucedâneo de choques. Era assim na Inglaterra de 1774, o ano em que começa a acção do filme A Duquesa, protagonizado por Keira Knightley, ela própria a Duquesa de Devonshire, Georgiana Cavendish, ou simplesmente G, em filme de Saul Dibb.

1º choque: o riquíssimo Duque, Ralph Fiennes, assume o código aristocrático do casamento: depois do dever cumprido, à espera de um herdeiro macho (motivo do “esforço” para legitimar um herdeiro), ele autoriza-se a divertir-se com as serviçais, que estão na residência para todo o serviço.

2º choque: chega à residência uma criança com mais ou menos dois anos e o Duque anuncia que ficará a viver com eles considerando que a mãe morreu . G intui que é filha dele. Ele admite.

3º choque: o Duque parece entender-se melhor com os cães, de raça, claro, do que com as pessoas em geral e a esposa em particular.

4º choque: os duques geram duas filhas e a culpada é G, porque está em causa a linha sucessória assegurada por um varão .

5º choque: o Duque de Devonshire torna-se amante da única amiga da sua esposa.

6º choque: blá blá blá blá blá.

7º choque: etc. e tal.

A quantos choques pode uma pessoas resistir?

Ora Georgiana é bela, inteligente, popular e admirada nos meios sociais ingleses. Envolve-se na vida pública, numa altura em que o exercício político do voto era interdito às mulheres, e faz campanha por um partido político. Um jovem político, futuro primeiro-ministro, entra em cena e os sentimentos eclodem.
Sincera, a Duquesa avisa o marido sobre os seus afectos e intenções. Afinal, toda a gente tem amantes e Bess, a amiga-amante é imposta lá em casa... Em resposta o Duque viola G: ela tem de lhe dar primeiro um herdeiro antes de fazer o que quiser com a sua vida. Efectivamente daí resulta um filho varão, o que provoca, circunstancialmente, o afastamento de G do apaixonado, cujo amor ainda não tinha sido consumado.

Contudo, o último acto ainda vem longe e o drama continua. Como acaba?
De acordo com as convenções sociais uma mulher deve sorrir. Sorrir sempre, mesmo que tenha o coração despedaçado e que a vida tenha andado em círculo assegurando assim a reprodução das ditas convenções… E Georgiana ainda conseguiu sorrir… Para que tudo fique bem. Para os outros…

Quantos sorrisos escondem almas partidas?

Wednesday, February 11, 2009

O amor que vem de longe


Há quanto tempo se namora? E se ama?

Desde sempre. Os humanos de Cro-Magnon já viviam como a família Flinstones: o pai Fred amava a mãe Wilma que amava a filha Pedrita e todos se amavam entre si de modo biunívoco. As setinhas iam e vinham numa reciprocidade comovente. A filha cresceu e “casa” com Bambam Rubble, um enjeitado que aparecera à porta do casal Betty e Barney, os melhores amigos de Fred e Wilma, e a vida segue o seu rumo entre o mascote “cangurussauro” e outros familiares e lianas e grutas e pedras e bicharocos ao vivo e a cores.
As provas?

Uma cadeia de hotéis espanhola imortalizou a simpática família paleolítica num hotel isleño e é ver os símbolos do período da pedra lascada à chegada ao hotel, à partida, na piscina e por todo o lado, nas mais variadas situações, dignas de registo para a posteridade.

Mas há outras evidências do amor que vem de longe.

Há registos mais antigos, lá isso há. Existem uns quantos clássicos do amor. Por exemplo: na grutas Grimaldi, em Itália, houve o “achamento” de um casal composto por uma mulher com cerca de trinta anos e por um homem à volta de 20 anos, abraçados, cujos esqueletos têm a módica idade de trinta mil anos. Pelo que se sabe, a diferença de idades entre o casal foi pacífica. Quem diria? Afinal, ambos estavam já no ocaso da vida …
Na Morávia, em Dolni Vestonicé, três corpos jovens foram encontrados: uma mulher rodeada por dois homens, um deles com a mão na cintura dela (ou no sexo). O trio é de vinte e cinco mil anos antes da nossa era …

Nas paredes de Pompeia, ainda há paredes que representam antigos casais romanos com sorriso enigmático, à mona Lisa, muito antes do Da Vinci existir. Amar-se-ão? Porque não? A história da humanidade faz-se na cama e estes “achamentos” provam a importância dada ao facto.

Os humanos de Cro-magnon, ou do paleolítico, como quiserem, “tinham o mesmo cérebro que nós, sonhavam como nós, experimentavam as mesmas emoções, os mesmo sentimentos que nós, e também deviam conhecer o desejo, o ciúme, a comiseração e os caprichos da paixão. É mesmo legítimo pensar que estes amores originais eram mais intensos, mais verdadeiros que os nossos, por se encontrarem livres de todas as contigências, de regras sociais, e da submissão a uma norma”, diz o especialista Jean Courtin[1].

E então, o que mudou nos humanos, após todos estes milhares de anos? A exploração predatória da natureza , a criação das tecnologias, os apagões de memória colectiva em nome da civilização e do bem comum, uma parte da condição feminina no Ocidente e pouco mais no sentido do equipamento humano básico, nu e cru, propriamente dito. Mas enquanto amarmos e fingirmos amar já é alguma coisa. Hã?

E agora façamos de conta que já é 14 de Fevereiro e antecipemos as comemorações, que nunca são demais. Feliz Dia de Todos Os Namorados: casais homo e hetero e bi e trans e para e …! Yabba-dabba-doo …


[1] (Vários) A mais bela história do amor (2006) Porto. Ed. Asa

Tuesday, February 3, 2009

Perdas e ganhos

1º round: ele ganhou.
2º round : ele ganhou.
3º round todos perderam.

Vamos ao primeiro round:
Ela é bela, bonita, loira, jovem, estudante de teatro e tem a cabeça cheia de ilusões em relação à sua pessoa;
ele é jovem, lindo, olhos claros, trabalha como estivador e tem a cabeça cheia de incertezas em relação à sua pessoa.
O Cupido lança o isco e eles caem na armadilha do amor, durante uma troca de olhares num certo dia, num certo bar, entre copos e gente e barulho e representações da alegria em vários graus mais ou menos histriónicos.

Agora o segundo round:
Mudaram de cidade. São bem vistos no bairro. Considerados como especiais. Ela representa no palco. Realizou o sonho. Ele tem um emprego como colarinho branco. Contudo, ela nunca será uma boa actriz, segundo o marido. Culpa do subúrbio onde vivem. Ela assume o fracasso e transforma-se “só” em dona de casa. Afinal casara porque engravidara e já vão no segundo filho. Ele é homem e cede aos instintos carnais no local de trabalho.

Terceiro round:
Ela tenta recuperar a chama do casamento e os sonhos antigos. Paris é a cidade mítica capaz de galvanizar uma nova dinâmica para começar de novo. Ela será a breadwinner para ele descobrir qual a sua vocação, que nem sabe qual é, mas que tem de ser grandiosa. Afinal, tem um emprego que detesta e sempre sonhara não ser como o pai, embora as voltas do destino o tivessem levado à empresa onde trabalhara o pai.
Combinam datas, avisam os amigos e ele no trabalho. Uma vez mais o destino troca as voltas: ela engravida. Ele tem uma promessa de progressão na carreira.

Ela não desiste. Quer ir na mesma e/ou resolver a situação.
Ele não.
E é aí que ela sente que se não pode ir, também não pode ficar.

O drama precipita-se e no fim todos perdem. Menos nós. Que ficámos com um desempenho soberbo de ambos: Kate Winslet ( que ganhou um globo de ouro pelo papel) e Leonardo DiCaprio, em Revolutionay Road.
Para mim o filme narra a história de sonhos desfeitos, ou melhor, a diferença entre aquilo que se passa na nossa cabeça e a realidade do dia-a-dia.

A acção acontece nos anos 50 do século xx. Mas poderia passar-se hoje. Não?